sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Fraternidade e paz

O individualismo, característico da sociedade de consumo, fragiliza os laços familiares e sociais, desqualifica e desconsidera os mais fracos, tidos como inúteis e descartáveis. Essa ideologia materialista, egocêntrica, faz a convivência humana tornar-se uma relação egoísta, pragmática. Deus se faz próximo e consolida a verdadeira fraternidade entre os homens. Sua paternidade ensina-nos a cuidar dos outros. A solidariedade cristã leva-nos a amar o ser humano, a respeitar os seus direitos e a oferecer oportunidades a todos. A fraternidade cristã considera cada ser humano como irmão, criado à imagem do Pai, resgatado pelo sangue de Cristo, orientado pelo Espírito. A consciência da paternidade de Deus leva-nos a construir a fraternidade. No Filho de Deus nós somos filhos e filhas do mesmo e único Pai!

A fraternidade humana foi rompida, mas foi regenerada por Cristo, por sua morte e ressurreição. Jesus assumiu a nossa natureza humana para redimi-la (cf. Fl 2, 8). Pela sua cruz e ressurreição, Cristo nos constitui como humanidade nova, em comunhão com Deus e com o seu projeto de fraternidade. A cruz fundamenta a fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Nós, seres humanos, contando com as próprias forças, jamais conseguimos vencer a indiferença, o egoísmo, o ódio, aceitar as legítimas diferenças entre irmãos, povos, raças, culturas... Quando acolhemos o amor de Deus, este Amor torna-se o mais poderoso agente de transformação da vida e das relações humanas. O amor abre os seres humanos à solidariedade e à partilha efetiva.

Entre as causas do empobrecimento está a falta de fraternidade entre os povos e os homens. Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.

Verifica-se a redução da pobreza absoluta. Verifica-se, contraditoriamente, o grave aumento da pobreza relativa, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Necessitamos de políticas que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas, iguais em dignidade e nos direitos fundamentais, acesso aos meios financeiros, aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projeto de vida e possa se desenvolver plenamente como pessoa.

Dom Aldo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da Paraíba


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