O individualismo, característico
da sociedade de consumo, fragiliza os laços familiares e sociais, desqualifica
e desconsidera os mais fracos, tidos como inúteis e descartáveis. Essa
ideologia materialista, egocêntrica, faz a convivência humana tornar-se uma
relação egoísta, pragmática. Deus se faz próximo e consolida a verdadeira
fraternidade entre os homens. Sua paternidade ensina-nos a cuidar dos outros. A
solidariedade cristã leva-nos a amar o ser humano, a respeitar os seus direitos
e a oferecer oportunidades a todos. A fraternidade cristã considera cada ser
humano como irmão, criado à imagem do Pai, resgatado pelo sangue de Cristo,
orientado pelo Espírito. A consciência da paternidade de Deus leva-nos a
construir a fraternidade. No Filho de Deus nós somos filhos e filhas do mesmo e
único Pai!
A fraternidade humana foi
rompida, mas foi regenerada por Cristo, por sua morte e ressurreição. Jesus
assumiu a nossa natureza humana para redimi-la (cf. Fl 2, 8). Pela sua cruz e
ressurreição, Cristo nos constitui como humanidade nova, em comunhão com Deus e
com o seu projeto de fraternidade. A cruz fundamenta a fraternidade que os
homens, por si sós, não são capazes de gerar. Nós, seres humanos, contando com
as próprias forças, jamais conseguimos vencer a indiferença, o egoísmo, o ódio,
aceitar as legítimas diferenças entre irmãos, povos, raças, culturas... Quando
acolhemos o amor de Deus, este Amor torna-se o mais poderoso agente de
transformação da vida e das relações humanas. O amor abre os seres humanos à
solidariedade e à partilha efetiva.
Entre as causas do empobrecimento
está a falta de fraternidade entre os povos e os homens. Em muitas sociedades,
sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações
familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes
tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência
patológica. Tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e
valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades,
através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos
presentes na vida das pessoas.
Verifica-se a redução da pobreza
absoluta. Verifica-se, contraditoriamente, o grave aumento da pobreza relativa,
de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou
num determinado contexto histórico-cultural. Necessitamos de políticas que
promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas, iguais em
dignidade e nos direitos fundamentais, acesso aos meios financeiros, aos
serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma
delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projeto de vida e possa
se desenvolver plenamente como pessoa.
Dom Aldo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da
Paraíba
0 comentários:
Postar um comentário