terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Agrotóxicos e alimentos



Em notícia veiculada no final de outubro passado, a mídia nacional apresentou a população dados de um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária  (ANVISA) sobre a presença de agrotóxicos em frutas, legumes e verduras. O documento apontou que 36% das amostras analisadas em 2011 e 29% das amostras verificadas em 2012 apresentaram resultados considerados insatisfatórios pela agência.
Segundo o estudo, nestes casos os alimentos continham níveis de agrotóxicos superiores ao limite imposto no Brasil ou que nunca foram registrados para uso no país. Os dados fazem parte do estudo que integra o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA).
Estes dados trazem a seguinte dúvida: É possível continuar consumindo frutas, verduras e legumes?
Consumir frutas, verduras e legumes orgânicos seria a melhor opção para este dilema. Entretanto, a produção no Brasil ainda é baixa, o preço é alto e o acesso é difícil. Portanto, consumir frutas, verduras e legumes não orgânicos, ou seja, que foram produzidos com uso de agrotóxicos, ainda é a opção para a maioria dos brasileiros. Para amenizar tais informações, algumas pesquisas apontam que diante deste cenário ainda é melhor consumir estes alimentos, mesmo com agrotóxicos, do que não consumi-los.O consumo de tais alimentos é essencial para uma alimentação saudável e para ter saúde. Há evidências suficientes que ingerir alimentos saudáveis como frutas, verduras e legumes, previne diversas doenças, entre elas, o câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS 2003) recomenda a ingestão de no mínimo, 400 gramas por dia destes alimentos para ajudar na prevenção do câncer. O Guia alimentar para a população brasileira (2006), do Ministério da Saúde, também traz como diretriz a necessidade do aumento do consumo de frutas, verduras e legumes para melhorar a saúde e prevenir doenças crônicas. 

O que fazer, então?

É importante reforçar que apenas uma pequena parte dos alimentos analisados pela ANVISA é imprópria para o consumo humano. Na imensa maioria dos problemas foi encontrado “traço de produtos” que não deveriam ter sido utilizados naquela cultura. “Traço” significa quantidades ínfimas em que se percebe que há no produto, mas a escala é tão pequena que o arredondamento é zero. Por exemplo: o vizinho pulverizou o tomate em dia de vento e este trouxe gotículas de agrotóxico para a alface da plantação vizinha. A alface é absolutamente própria para consumo, mas contém traços de elemento não permitido para esta cultura. O consumo da alface previne câncer. E o vizinho só terá câncer pelo agrotóxico se sistematicamente não utilizar equipamento de proteção para aplicá-lo.
Caldas & Jardim (2012), em revisão sobre produtos químicos tóxicos em alimentos, apontam que apesar da presença de agrotóxicos e do possível risco associado, o consumo traz mais benefícios ao ser humano, do que o não consumo. Deixar de consumir frutas, verduras e legumes, pela presença de agrotóxico, é pior do que consumi-los com agrotóxicos.
Reiss e col. (2012) analisaram o risco de desenvolvimento e a chance de prevenção de câncer pelo consumo de frutas, verduras e legumes com agrotóxicos nos EUA. Apesar das incertezas que cercam tais resultados, os pesquisadores apontaram que aproximadamente 20 mil casos de câncer seriam prevenidos, por ano, pelo aumento de uma porção por dia desses alimentos, e apenas 10 casos de câncer seriam causados pelo consumo dos mesmos com agrotóxicos.
Em contrapartida, pesquisas apontam que os maiores prejudicados pelo uso de agrotóxicos são os trabalhadores das lavouras. Os indivíduos que aplicam, ou manuseiam o agrotóxico, ficam expostos diretamente aos produtos químicos e a contaminação dos mesmos, que pode ocorrer pelo contato com a pele ou por via respiratória, principalmente quando não usam os equipamentos de proteção. As consequências são graves e os casos de câncer são comuns nesta população. Foram encontradas associações positivas entre trabalhar com agrotóxico e alguns tipos de câncer, como de bexiga, mieloma, no cérebro, de esôfago e entre outros.
Neste contexto, a Pastoral da Criança trabalha na promoção da alimentação saudável, incentivando o consumo de frutas, verduras e legumes frescos, da época e da região, cultivados organicamente. A ação Alimentação e Hortas Caseiras promove encontros com as mães acompanhadas com o intuito de compartilhar conhecimento, trocar receitas saudáveis e preparar pequenas hortas nos quintais ou em pequenos espaços (caixotes, potes, latas, caixinhas de leite, floreiras, etc).
Plantar seus próprios alimentos, consumi-los junto com sua família, fazer trocas com os vizinhos, é uma boa maneira de continuar consumindo frutas, verduras e legumes e prevenir as doenças crônicas.

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