A cada ano, a fé católica vive seus dias maiores no Tríduo pascal: quinta feira santa, com a celebração da ceia do Senhor, sexta feira santa, com a liturgia da sua paixão e morte e sábado santo, com a vitória de sua ressurreição. Os mistérios da presença eucarística, morte salvífica e ressurreição não podem ser vividos senão à luz da fé; com efeito, a razão humana não os alcança e a inteligência não os explica, porém, não encontram argumentos consistentes para sua não existência. Nessa linha, ateísmos históricos negaram a presença de Jesus na Eucaristia; já na era apostólica, como ensina São Paulo, para a sabedoria dos gregos, a morte de Cristo na cruz era uma loucura; filosofias racionalistas e correntes do pensamento humano relativizaram o significado da Ressurreição. “Assim, a fé abre os olhos da razão para aquelas coisas que não pertencem às leis da ordem da criação. Se a morte e ressurreição de Jesus tivessem sido documentadas e filmadas, não teríamos uma compreensão mais profunda da realidade de Jesus. Somente o Espírito Santo revela quem é Jesus Cristo. O milagre, também a ressurreição, encontra-se entre a fé e a descrença. Para o incrédulo, o túmulo vazio significa roubo de um cadáver (Mt 27; 28.12ss; Jo 20.6ss) ou a pessoa de Jesus ressuscitado é confundida com um jardineiro. Somente o que crê vê o túmulo vazio.”
Para a doutrina, a catequese e a liturgia católicas, a ressurreição de Jesus é o centro da vida cristã porque sem ela a pregação da Igreja e a fé dos fiéis seriam vãs. (cf. 1Cor 15,14) Portanto, a ressurreição é a razão fundamental da sustentação da fé cristã, ao longo dos milênios. São Gregório Nazianzeno (séc. IV), em seus sermões, preparava os fiéis para a celebração desses mistérios: “Participemos nesta festa ritual de maneira evangélica, e não literária, de maneira perfeita, e não inacabada, em atitude de eternidade, e não de instante. Tomemos como capital, não a Jerusalém terrena, mas a cidade celeste, não a que é hoje esmagada aos pés pelos exércitos, mas a que é glorificada pelos anjos. Não sacrifiquemos os jovens touros e os novilhos com chifres e unhas (Sl 68,32), mais mortos do que vivos e desprovidos de inteligência, mas ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor (Sl 49,14), no altar celeste e em união com os coros do céu. Afastemos o primeiro véu, avancemos até ao segundo, ergamos o olhar para o Santo dos Santos. Direi antes: imolemo-nos a nós próprios a Deus; melhor, ofereçamos-Lhe diariamente todas as nossas ações. Aceitemos tudo por causa do Verbo. Subamos com pressa até à cruz, cujos cravos são doces, ainda que sejam extremamente dolorosos. Mais vale sofrer com Cristo e por Cristo, do que viver em delícias com outros. Se fores Simão de Cirene, toma a cruz e segue Cristo. Se fores crucificado com Ele como um ladrão, faz como o bom ladrão: reconhece a Deus. […] Se fores José de Arimateia, reclama o corpo a quem o mandou crucificar; faz tua a purificação do mundo. E, se fores Nicodemos, o servidor noturno de Deus, vem depositar este corpo no túmulo e perfumá-lo com mirra. E se fores Maria, ou Salomé, ou Joana, chora desde o começo do dia. Sê a primeira a ver a pedra do túmulo afastada, talvez mesmo os anjos, ou o próprio Jesus.”
As graças do Tríduo Pascal derramam-se sobre os fiéis, por graça de Deus e pelo esforço de cada um que, na espiritualidade, busca uma melhor forma de participação nos mistérios de Cristo.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.
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