quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Faces da vida – 2011/2012 - Dom Genival Saraiva

O ano de 2011 tem uma face própria. Na vida das pessoas, há elementos de natureza existencial que fogem aos parâmetros formais de qualquer identificação e avaliação, por serem perceptíveis somente com a lente da subjetividade. Nesse sentido, cada um tem a exata ou aproximada dimensão do que representou esse momento de sua história, em 2011. Por sua vez, a vida da sociedade é lida conforme os parâmetros da crônica jornalística, da investigação científica e da pesquisa metodológica.

No término do ano, são feitas leituras retrospectivas, através da midia, sobre a face da vida de pessoas destacadas, socialmente, e da população local, regional, nacional e internacional, com ênfase naqueles aspectos que têm o caráter da excepcionalidade, quando considerados, positiva ou negativamente, em relação ao seu dia a dia. Como instituição, por exemplo, a Igreja Católica identifica, por seus próprios meios ou através de dados apontados pelos órgãos públicos de investigação, o perfil de sua ação pastoral e as lacunas em seu trabalho de evangelização, tanto no Brasil, quanto no mundo. Ao fazer isso, a Igreja se coloca frente à responsabilidade que recebeu de Jesus, em torno de sua pastoral que não pode desconhecer os desafios, obstáculos, confrontações e contestações que são inerentes à sua missão. Nesse campo, a Igreja registra uma face própria, no Brasil e no mundo.

Da mesma forma, ante suas responsabilidades institucionais, a sociedade brasileira, civil e politicamente, se vê nessa ótica, enquanto constata a concretização ou não das finalidades que são próprias de seu ser e a realização ou não das ações que são esperadas de seu agir. Na leitura comum e nos dados da pesquisa científica, em alguns aspectos, são identificados êxitos da sociedade brasileira, a exemplo da diminuição de acidentes no transporte de crianças, com morte ou não, a partir do uso obrigatório de cadeirinhas; parece coisa simples, mas, sem dúvida, é uma conquista relevante da sociedade. Enquanto isso, são assustadoras as estatísticas dos mais de 140.000 acidentes no trânsito que provocaram mais de 40.000 mortes em 2011; nesse número, ocupam um destaque preocupante as mortes provocadas por acidentes de moto que, em verdade, já estão sendo consideradas um problema de saúde pública. Na esfera política, o registro de 2011 é muito negativo, uma vez que se repetiram os escândalos da corrupção, no âmbito federal, estadual e municipal e na esfera dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Os recursos desviados da atividade-fim causam prejuízos incalculáveis à qualidade de vida da população: “Investigações da Controladoria Geral da União já constataram desvios de R$ 1,1 bilhão nos ministérios dos Transportes, Agricultura, Turismo e Esporte e Trabalho”. Em todos os tempos, a corrupção tem se tornado um câncer de difícil extirpação porque conta com o conluio de personagens da poder público e da sociedade civil.

O ano de 2012 falará à Igreja, de uma forma muito especial, por ser o início do cinquentenário do Concílio Vaticano II; falará à população brasileira, segundo o direcionamento que lhe derem os poderes públicos e a vigilância da sociedade organizada. Embora haja uma linha de continuidade, em muitas coisas e sob muitos aspectos, diferentemente daquilo que se rege pelo automatismo da tecnologia, o ano de 2012, seguramente, terá a sua face, dado que a história humana não se repete.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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