Como construir ambientes de paz? Há 25 anos João Paulo II convidou representantes das várias religiões do mundo para um encontro em Assis, terra de São Francisco, com a finalidade de refletir, orar e trabalhar pela paz mundial. Em outubro de 2011, Bento XVI fez o mesmo, relembrando o seu antecessor. Naquela ocasião a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo emblemático daquela divisão era o muro de Berlim que atravessava a cidade, traçando uma fronteira entre os dois mundos. Três anos depois do encontro ecumênico de Assis, em 1989, o muro caiu sem resistência nem derramamento de sangue.
Os enormes arsenais que estavam por detrás do muro perderam a capacidade de aterrorizar. A vontade que os povos tinham de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. Ao lado dos fatores econômicos e políticos, a causa mais profunda desse acontecimento tem sua razão de ser na espiritualidade. Por detrás do poder material havia apenas ideologia, sem qualquer convicção espiritual. Face à violência a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo. A violência, pura ideologia, foi derrotada. A vitória da liberdade representa a vitória da paz.
A iniciativa de orar e trabalhar pela liberdade e pela paz significa uma construção permanente, pois o mundo está cheio de discórdias e estas têm origem no coração do homem (Cf. Mc 7,20 ss). A violência sempre presente caracteriza-se como desconcertante condição do nosso mundo. A liberdade é um bem quando orientada para o compromisso para o desenvolvimento de todos (não apenas para alguns). A liberdade que é utilizada para provocar violência encarna-se em fisionomias assustadoras.
Hoje presenciamos formas de terrorismo sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, cruelmente ceifadas ou mutiladas. Inclui-se o fanatismo religioso que anula a regra do direito e do bom senso para justificar a destruição dos outros. O “bem” pretendido pelo terrorismo não passa de ideologia violenta, cruel e monstruosa. Daí nasce a hostilidade generalizada contra as religiões quando estas justificam e legitimam a violência para destruir os outros. Esta, porém, não é a natureza da religião.
A Igreja Católica comprometeu a credibilidade do Evangelho de Jesus quando investiu na defesa da fé utilizando meios equivocados. Temos como exemplos históricos abomináveis as cruzadas que se identificaram como guerras santas de caráter político e financeiro. A inquisição deixou atrás de si a pecha da perseguição odiosa e vingativa contra alguém que pensasse de forma diversa. Ora, Cristo crucificado é sinal do amor do Pai que, através do seu Filho, quer que todos se salvem. Enviou-nos o seu Filho não para julgar e condenar senão para perdoar, reconciliar e reunir os filhos e filhas de Deus que andavam dispersos e divididos entre si (Cf. Jo 17,1ss).
O dom da fé cristã que cada um de nós recebe deve ser purificado. Nós temos a mania de instalar ideologias em nome da fé. O dom da fé corresponde a uma tarefa construtiva permanente. Apesar das nossas fraquezas e contradições, a proposta do Senhor é fazer de nós instrumentos da sua paz no mundo. Trata-se de nos sentirmos unidos convergindo para a verdade, para o bem comum, comprometendo-nos decisivamente pela promoção da dignidade da vida humana. Cabe-nos assumir o diálogo e a prática construtiva da paz superando a violência que só destrói o que é de direito, justo, belo.







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