No calendário santoral da Igreja Católica são cultuados muitos santos e santas de todos os tempos. Homens e mulheres se santificaram, na fidelidade ao Pai, no seguimento de Jesus, sob a assistência do Espírito Santo; isso aconteceu no dia a dia ou em circunstâncias especiais, mediante o testemunho de sua fé católica. Ninguém se torna santo por acaso e por seus próprios méritos, porque a santidade é um dom de Deus; alguém se torna santo ou santa com esforço, por corresponder aos estímulos da graça de Deus, fazendo a sua parte no processo de santificação. Há santos e santas de ontem e de hoje cuja vida se torna um exemplo para imitação dos cristãos. Entre estes, os mártires da fé católica falam de uma maneira muito forte ao coração dos fiéis, pela natureza heróica de seu testemunho. São Sebastião é um destes mártires cuja memória a Igreja celebra no dia 20 de janeiro; a devoção popular, em muitas dioceses, paróquias e comunidades, reveste a celebração desse seu padroeiro de um caráter festivo, litúrgica e socialmente. É um santo de ontem que continua sustentando a fé católica no século XXI. Por que ele continua sendo lembrado e imitado, enquanto Diocleciano, seu torturador, é apenas conhecido por suas atrocidades? Sem dúvida, isso acontece porque a memória dos mártires é uma obra de Deus, fomentada pela Igreja. “São Sebastião, desde cedo, foi muito generoso e dado ao serviço. Recebeu a graça do santo batismo e zelou por ele em relação à sua vida e à dos irmãos. Ao entrar para o serviço no Império como soldado, tinha muita saúde no físico, na mente e, principalmente, na alma. Não demorou muito, tornou-se o primeiro capitão da guarda do Império. Esse grande homem de Deus ficou conhecido por muitos cristãos, pois, sem que as autoridades soubessem – nesse tempo, no Império de Diocleciano, a Igreja e os cristãos eram duramente perseguidos –, porque o imperador adorava os deuses. Enquanto os cristãos não adoravam as coisas, mas as três Pessoas da Santíssima Trindade. (...) São Sebastião tornou-se defensor da Igreja como soldado, como capitão e também como apóstolo dos confessores, daqueles que eram presos. Também foi apóstolo dos mártires, os que confessavam Jesus em todas as situações, renunciando à própria vida. O coração de São Sebastião tinha esse desejo: tornar-se mártir. E um apóstata denunciou-o para o Império e lá estava ele, diante do imperador, que estava muito decepcionado com ele por se sentir traído. Mas esse santo deixou claro, com muita sabedoria, auxiliado pelo Espírito Santo, que o melhor que ele fazia para o Império era esse serviço; denunciando o paganismo e a injustiça.”
Tertuliano, um dos padres da Igreja, que viveu entre 155 e 220, escreveu: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. A história da Igreja confirma a veracidade dessa afirmação, porque é visível a fertilidade do martírio, ao longo dos tempos, inclusive na sua face contemporânea. Hoje, milhares de homens e mulheres conhecem o martírio tão somente porque são católicos; em alguns países são assassinados simplesmente por serem cristãos. Cristo, portanto, continua sendo perseguido na pessoa de seus discípulos e discípulas. A Igreja tem muitas destas corajosas testemunhas no seu calendário santoral.
Os mártires de ontem e de hoje são exemplos de encorajamento para os católicos, diante das dificuldades de viver e testemunhar a fé, perante autoridades arbitrárias e em face dos ventos contrários à sua prática, numa sociedade crescentemente secularizada.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.
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