sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O ato de Perdoar - Dom Genival Saraiva

 A circunstância do término e início de ano contém uma linguagem especial sobre o modo como se processou o relacionamento humano, durante o ano que passou e como encará-lo, ao longo do novo ano. Em muitos casos, registraram-se desencontros, conflitos, intrigas, agressões físicas e verbais e outras atitudes e sentimentos que distanciaram as pessoas. O término do ano é um momento oportuno para essa leitura porque passa a ser visto não apenas como mudança de página do calendário anual, mas como mudança de conduta humana. A chegada do Ano Novo, além de aproximar pessoas, vem acompanhada, em muitos casos, do pedido de desculpa ou de perdão. Todavia, todo tempo é propício para que seja vivenciada a rica experiência do perdão.

O pedido de perdão e a concessão do perdão fazem muito bem às pessoas. No plano das relações interpessoais, o ato de pedir perdão ou desculpa e o de perdoar ou desculpar, em face de algo que atingiu a natureza da convivência, constituem uma atitude de grandeza humana e espiritual. Na verdade, na vida das pessoas há sempre alguma coisa que, de forma intencional ou não, afeta a ordem normal do seu relacionamento. Por sua natureza, o perdão é algo mais profundo do que a desculpa e, portanto, vai além de uma conduta respeitosa entre as pessoas porque tem uma face divina, é expressão do amor de Deus. É importante que cada um se veja como perdoado por Deus, ao perdoar seu semelhante. Pedir perdão e aceitar o perdão fazem parte da vida cotidiana das pessoas, quando são assistidas pela graça de Deus. Por experiência, todos sabem que não é simples a atitude de pedir perdão e perdoar. Porém, também por experiência, todos sabem que é benéfica, espiritual, psicológica e socialmente. Nesse sentido, sempre cresce em maturidade humana quem pede perdão e quem concede o perdão, dado que isso exige a vivência da espiritualidade, o exercício da maturidade e a prática da fraternidade. Sem dúvida, o ato de perdoar é um ato de amor. Na realidade, somente quem ama é capaz de perdoar, somente quem ama concede perdão, de coração. No Evangelho encontra-se o maior e melhor exemplo do perdão, por amor – Jesus. Na oração do Pai nosso, ensina o orante a pedir perdão a Deus, diante da experiência de ter perdoado a quem o ofendeu. O seu ensinamento é muito claro a esse respeito: “Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão. (Mt 18,35)

A Igreja é mãe e mestra. As mães, por sua feminilidade e ternura, têm uma relação existencial com seus filhos, a ponto de os valorizarem, por serem frutos de seu ventre, ao invés de rejeitá-los, em razão de seus erros. Por isso, as mães sempre vão ao seu encontro. A Igreja é mãe e, assim, fiel ao ensinamento e à prática de jesus, vai ao encontro de seus filhos, alimentando-os com a graça do sacramento da Reconciliação; como mestra, ensina que o perdão é a via da humanização e da santificação do pecador arrependido. A vivência de cada um confirma que o ato de perdoar é difícil porque a tendência é que prevaleça o desejo de autoafirmação de sua personalidade, prepondere o egoísmo do seu ser e predomine o individualismo no seu agir.

      Com o novo ano, abre-se um longo e largo caminho para o exercício do pedido de perdão e da concessão do perdão porque, sabidamente, a casuística cotidiana vai evidenciar muitas linhas cruzadas no relacionamento humano. Atenções e cuidados humanos são indispensáveis para que se evite esse estado de coisas. No entanto, a ação da graça de Deus é a garantia do êxito na vida de quem pede perdão e de quem perdoa.

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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