A
circunstância do término e início de ano contém uma linguagem especial sobre o
modo como se processou o relacionamento humano, durante o ano que passou e como
encará-lo, ao longo do novo ano. Em muitos casos, registraram-se desencontros,
conflitos, intrigas, agressões físicas e verbais e outras atitudes e
sentimentos que distanciaram as pessoas. O término do ano é um momento oportuno
para essa leitura porque passa a ser visto não apenas como mudança de página do
calendário anual, mas como mudança de conduta humana. A chegada do Ano Novo,
além de aproximar pessoas, vem acompanhada, em muitos casos, do pedido de
desculpa ou de perdão. Todavia, todo tempo é propício para que seja vivenciada
a rica experiência do perdão.
O pedido
de perdão e a concessão do perdão fazem muito bem às pessoas. No plano das
relações interpessoais, o ato de pedir perdão ou desculpa e o de perdoar ou
desculpar, em face de algo que atingiu a natureza da convivência, constituem
uma atitude de grandeza humana e espiritual. Na verdade, na vida das pessoas há
sempre alguma coisa que, de forma intencional ou não, afeta a ordem normal do
seu relacionamento. Por sua natureza, o perdão é algo mais profundo do que a
desculpa e, portanto, vai além de uma conduta respeitosa entre as pessoas porque
tem uma face divina, é expressão do amor de Deus. É importante que cada um se
veja como perdoado por Deus, ao perdoar seu semelhante. Pedir perdão e aceitar
o perdão fazem parte da vida cotidiana das pessoas, quando são assistidas pela
graça de Deus. Por experiência, todos sabem que não é simples a atitude de pedir
perdão e perdoar. Porém, também por experiência, todos sabem que é benéfica, espiritual,
psicológica e socialmente. Nesse sentido, sempre cresce em maturidade humana
quem pede perdão e quem concede o perdão, dado que isso exige a vivência da espiritualidade,
o exercício da maturidade e a prática da fraternidade. Sem dúvida, o ato de
perdoar é um ato de amor. Na realidade, somente quem ama é capaz de perdoar,
somente quem ama concede perdão, de coração. No Evangelho encontra-se o maior e
melhor exemplo do perdão, por amor – Jesus. Na oração do Pai nosso, ensina o
orante a pedir perdão a Deus, diante da experiência de ter perdoado a quem o ofendeu.
O seu ensinamento é muito claro a esse respeito: “Eis como meu Pai celeste
agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão. (Mt
18,35)
A
Igreja é mãe e mestra. As mães, por sua feminilidade e ternura, têm uma relação
existencial com seus filhos, a ponto de os valorizarem, por serem frutos de seu
ventre, ao invés de rejeitá-los, em razão de seus erros. Por isso, as mães
sempre vão ao seu encontro. A Igreja é mãe e, assim, fiel ao ensinamento e à
prática de jesus, vai ao encontro de seus filhos, alimentando-os com a graça do
sacramento da Reconciliação; como mestra, ensina que o perdão é a via da
humanização e da santificação do pecador arrependido. A vivência de cada um
confirma que o ato de perdoar é difícil porque a tendência é que prevaleça o
desejo de autoafirmação de sua personalidade, prepondere o egoísmo do seu ser e
predomine o individualismo no seu agir.
Com o novo ano, abre-se um longo e largo
caminho para o exercício do pedido de perdão e da concessão do perdão porque,
sabidamente, a casuística cotidiana vai evidenciar muitas linhas cruzadas no
relacionamento humano. Atenções e cuidados humanos são indispensáveis para que
se evite esse estado de coisas. No entanto, a ação da graça de Deus é a
garantia do êxito na vida de quem pede perdão e de quem perdoa.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.
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