sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal e natais - Dom Genival Saraiva

O Natal é visto sob várias óticas e com muitas lentes. Visto no tempo, há o Natal das origens, há o Natal em suas manifestações genuínas, em diversas nações e culturais, e há o Natal instrumentalizado de muitas maneiras. O Natal das origens, sem dúvida, tem a marca da simplicidade porque remonta à sua fonte mais autêntica que é a Bíblia. Com efeito, o relato do nascimento de Jesus, em seu Natal em Belém da Judeia, chama a atenção, pela dignidade de suas personagens centrais – Jesus, Maria e José, pela sobriedade do cenário de seu nascimento - uma manjedoura e animais e pela pobreza dos primeiros adoradores - os pastores. (cf. Lc 2,20) No período do Advento e Natal, a leitura do relato bíblico, os rituais litúrgicos e as encenações teatrais falam à razão e tocam o coração das pessoas. De fato, quando visto, compreendido e celebrado nessa ótica, o Natal aprofunda o vínculo da relação divino-humana porque, com a humanização de Jesus no seu Natal, a divinização do homem é alcançada, mediante as graças dos Sacramentos. O Natal também é acolhido hoje através de sinais muito concretos, em relação a causas que dizem respeito a direitos humanos e a conquistas sociais. A celebração do Natal, comumente, é marcada pela nota da solidariedade, como “Natal sem fome”, “Natal da Solidariedade” e outras expressões, nas comunidades.

 Na compreensão do Natal, dentre muitas manifestações culturais, destaca-se o presépio, por seu caráter simbólico. “O presépio é talvez a mais antiga forma de caracterização do Natal. Sabe-se que foi São Francisco de Assis, na cidade italiana de Greccio, em 1223, o primeiro a usar a manjedoura com figuras esculpidas formando um presépio, tal qual o conhecemos hoje. A ideia surgiu enquanto o santo lia, numa de suas longas noites dedicadas à oração, um trecho de São Lucas que lembrava o nascimento de Cristo. Resolveu então montá-lo em tamanho natural, em uma gruta de sua cidade. O que restou desse presépio encontra-se atualmente na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Presépio significa em hebraico ‘a manjedoura dos animais’, mas a palavra é usada com frequência para indicar o próprio estábulo. Jesus ao nascer foi reclinado em um presépio que provavelmente seria urna manjedoura, como as muitas que existiam nas grutas naturais da Palestina, utilizadas para recolher animais. Outra versão é que o presépio de Jesus era feito de barro, aproveitando-se uma saliência da rocha e adaptando-a para tal finalidade. Esta é, sem dúvida, a versão mais aceita. (...) No Brasil, em muitos estados do Nordeste, até hoje a montagem dos presépios é acompanhada de danças e festejos conhecidos como Pastorinhas, versões brasileiras dos autos de Natal, que eram encenações do nascimento de Jesus típicas de algumas regiões da Europa, como a Provença, na França. (...) O pastoril é um dos autos natalinos mais animados e cheios de ternura encenados no sertão nordestino. As pastorinhas cantam músicas de homenagem ao ‘Deus Menino’, que chega no dia de Natal.”

Com o passar do tempo, o Natal passou a ser compreendido e tratado como evento social e daí, como corolário, as numerosas comemorações de alcance coletivo, em praças e casas de show. Do Natal primitivo, restam o nome e qualquer coisa mais! Tudo isso contribui para uma crescente desvirtuação do sentido da comemoração do Natal de Cristo.

Como se vê, há o natal do 13º salário, das compras, dos presentes, das viagens, da confraternização, da solidariedade; por sua importância litúrgica, destaque-se o Natal do Senhor na vida dos cristãos!

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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