quarta-feira, 7 de março de 2012

Valor e degradação da vida - Dom Genival Saraiva

A vida é um valor, independentemente da adjetivação que se lhe acrescente – vida humana, intrauterina, infantil, animal, vegetativa, terrestre, eterna, etc. “Uma das empreitadas mais complexas e antigas destinadas à ciência da biologia é a conceituação do que é vida. Apesar das diversas tentativas, não se tem, ainda, um consenso a respeito desse desafio epistemológico; não estamos convictos de uma conceituação a respeito dos mistérios que permeiam o significado da vida. Vida é um conceito muito amplo e admite diversas definições.”


Essas definições são formuladas conforme o campo das ciências ou são explicitadas segundo o senso comum, considerando-se a diversidade de compreensões a respeito do que seja a vida. Embora seja sumamente importante uma conceituação científica da vida, cada pessoa tem sua compreensão a seu respeito e, sem dúvida, é com essa chave de leitura que se comporta, segundo seu ponto de vista, em face da sua própria vida e da vida de seus semelhantes. Sem dúvida, essa compreensão em torno da vida é fruto de uma assimilação positiva, graças à formação religiosa e à educação social recebidas no lar, na escola e na comunidade, ou resulta de um processo de deterioração cuja veiculação é identificada nas práticas individuais e no comportamento coletivo. 

A vida, portanto, é um valor, em si; numa concepção humanista-cristã, tem um valor absoluto, a ponto de sempre dever ser defendida a sua dignidade, em qualquer contexto. A Igreja Católica jamais poderá desviar o centro de doutrina e o eixo de sua ação evangelizadora desse foco da dignidade da vida, independentemente de circunstâncias. É simplesmente contraditória a posição de algumas igrejas, mais exatamente, de algumas seitas, que apoiam e defendem antivalores biológicos e morais como a prática do aborto, da eutanásia e a utilização de células-tronco embrionárias; segundo a doutrina e a pastoral católica, isso fere, claramente, a dignidade da vida, ética e moralmente.

A violência à vida sempre existiu na história da humanidade, a começar pelo primeiro fratricídio, relatado no Genesis, (cf. Gn 4, 8-16).  Atualmente, a crônica jornalística encontra nos registros de violência à vida a matéria prima de seus noticiários, enquanto o aparato policial nela encontra o grande desafio a ser enfrentado, mediante uma política pública que passe da simples repressão a uma educativa ação preventiva. Dessa maneira, a vida experimenta um processo de crescente degradação; apesar de ser, hoje, um fenômeno corriqueiro, vai se tornando cada vez mais assustador. Os exemplos são muitos e muito próximos da população. Os chamados “crimes de proximidade” são constantes e ocorrem no interior dos lares e nos espaços da vizinhança. “Crimes de proximidade, cometidos dentro de casa, na vizinhança da vítima ou em bares representam um grande desafio às polícias, pois em sua maioria são imprevisíveis e conduzidos por motivo torpe.” Os casos de uxoricídio, mariticídio, patricídio, matricídio, fratricídio e os inúmeros casos de violência contra a mulher são alguns dos muitos “crimes de proximidade” que se alastram na sociedade. 

O recente patricídio e matricídio, praticado por um filho adotivo, tirando a vida do conceituado bispo anglicano Robinson Cavalcanti e de sua esposa, Miriam Cavalcanti, é mais um “crime de proximidade” que mostra quanto a vida está exposta à degradação, ao invés daquela veneração que lhe é devida pela família e pela sociedade.

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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