segunda-feira, 12 de março de 2012

Olhar do Concílio Vaticano II - Dom Genival Saraiva


Na leitura que se faz do Concílio Vaticano II (1962-1965), na comemoração dos cinquenta anos da sua abertura, é surpreendente a atualidade de seus ensinamentos, em relação ao lugar do homem no mundo contemporâneo, como se percebe na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” sobre a Igreja no mundo atual. O seu Proêmio já aponta essa identificação entre a Igreja, no cumprimento de sua missão, e o homem a ser evangelizado: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração.”

O homem, individual, social e politicamente considerado, está retratado nas palavras conciliares, tanto em relação a aspirações e direitos quanto em relação a conquistas e desigualdades. “Daqui vem a insistência com que muitos reivindicam aqueles bens de que, com uma consciência muito viva, se julgam privados por injustiça ou por desigual distribuição. As nações em vias de desenvolvimento, e as de recente independência desejam participar dos bens da civilização, não só no campo político mas também no econômico, e aspiram a desempenhar livremente o seu papel no plano mundial; e, no entanto, aumenta cada dia mais a sua distância, e muitas vezes, simultaneamente, a sua dependência mesmo econômica com relação às outras nações mais ricas e de mais rápido progresso. Os povos oprimidos pela fome interpelam os povos mais ricos. As mulheres reivindicam, onde ainda a não alcançaram, a paridade de direito e de fato com os homens. Os operários e os camponeses querem não apenas ganhar o necessário para viver, mas desenvolver, graças ao trabalho, as próprias qualidades; mais ainda, querem participar na organização da vida econômica, social, política e cultural. Pela primeira vez na história dos homens, todos os povos têm já a convicção de que os bens da cultura podem e devem estender-se efetivamente a todos. (...) O mundo atual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo. (...) A Igreja, porém, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens pelo seu Espírito a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu outro nome, no qual devam ser salvos. Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre. Quer, portanto, o Concílio, à luz de Cristo, imagem de Deus invisível e primogênito de toda a criação, dirigir-se a todos, para iluminar o mistério do homem e cooperar na solução das principais questões do nosso tempo.” 

É visível a lucidez do enfoque dos padres conciliares, ao aprovarem a Gaudium et Spes, em 1965, último ano do Concílio, quando trataram de problemas reais e desafiantes, como a fome no mundo, a relação no mundo do trabalho, o lugar da mulher na sociedade, o potencial e a debilidade da governabilidade das nações. A leitura dessa realidade, nesse começo da segunda década do século XXI, confirma quanto o Concílio Vaticano II enxergou bem o retrato da humanidade.

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