sexta-feira, 23 de março de 2012

Problema de saúde pública - Dom Genival Saraiva

O comércio de motos se expandiu no Brasil e, particularmente, no Nordeste, provocando, como consequência, um alarmante número de acidentes, conforme estatísticas divulgadas, recentemente. “A aceleração das vendas de motos no país a partir de 2004 vai levar a fabricantes de duas rodas instaladas aqui a bater 20 milhões de unidades produzidas desde 1975, quando se deu início à montagem de motos no Brasil. Boa parte desse crescimento se deve ao desempenho das vendas no Nordeste brasileiro. Antes ignorado pela maioria das empresas, agora o solo nordestino é a menina dos olhos de qualquer executivo com intenções de vender algum produto no país. (...) Uma das razões para o aumento das vendas de motos no Nordeste é justamente o aumento da renda na região, o que levou a motocicleta ao posto de verdadeiro carro popular nordestino. O aumento na venda de motos não se traduz no crescimento do número de carteiras de habilitação no Nordeste. (...) Quase um milhão de pessoas conduzem o veículo de duas rodas sem carteira de habilitação. O problema da segurança no trânsito, seja na região Nordeste ou em qualquer outra do país, se resume em duas palavras: fiscalização e educação’.”


Constata-se, dessa forma, que, sobretudo, por razões econômicas, a moto se incorporou à realidade do trabalho e do lazer dos usuários. Com efeito, hoje, o mototaxista, o motoboy e o motociclista compõem o cenário de cidades, vilarejos e áreas rurais. A moto solucionou o problema de muitas pessoas que sabem usar essse meio de transporte, com prudência e segurança. Todavia, tornou-se causa de problemas graves para usuários, famílias e para a sociedade. De fato, a segurança no trânsito agravou-se, sobremaneira, com o aumento de motos em circulação, conduzidas por pessoas sem maturidade e, inclusive, sem habilitação. A consequência é visível nas estatísticas dos acidentes, com ou sem morte. O Manual da CF 2012, abordando o tema da Saúde Pública, trata disso: “No Brasil, o número de mortes por causas externas (mortes violentas) já ocupa o terceiro lugar em relação aos óbitos da população em geral, só perdendo para as doenças cardiovasculares e as neoplasias (cânceres), e detém o primeiro lugar como causa de morte na faixa etária de 15 a 39 anos. Segundo um estudo sobre Saúde no Brasil, houve, no país, em 2007, 47.707 homicídios (36,4%) e 38.419 óbitos (29,3%) relacionados ao trânsito, constituindo juntos 67% do total de 131.032 óbitos por causas externas.” Além das mortes, os acidentes de trânsito “também deixam inúmeros sobreviventes com sequelas irreversíveis, que passam depender muito do sistema de saúde e da família devido ao constante cuidado de que precisam.” As vítimas, em sua maioria, são jovens cuja “idade média foi de 24,3 anos.” A razão é simples: “A vulnerabilidade do usuário da moto é evidente. Para ele não há proteções similares àquelas dos ocupantes de veículos de quatro rodas. Na colisão, que é um dos tipos de acidentes de motocicleta mais usual, o motociclista absorve em sua superfície corpórea toda a energia gerada no impacto, seja indo de encontro com a via pública, seja com os objetos da mesma ou outros veículos a motor.”

As mortes ou sequelas provocadas pelos acidentes de moto constituem um problema de saúde pública, visto também pelo seu componente socioeconômico. A solução desse problema passa, necessariamente, pela educação para o trânsito, com a indispensável participação do motociclista, da família, da escola e dos órgãos de fiscalização. 

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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