segunda-feira, 6 de maio de 2013


Tempos de Francisco
            É muito importante saber fazer a leitura de acontecimentos, quaisquer que sejam, pelo signficado que têm para a vida das pessoas, das instituições e da própria sociedade. Afinal, em princípio, nada é neutro, nada é indiferente porque nenhuma pessoa é insensível, nenhuma é impermeável. Portanto, tudo que acontece na vida das pessoas, no âmbito das instituições e na história da socidade tem o seu porquê. Mais do que isso, tem suas consequências, uma vez que estão entrelaçados muitos elementos existenciais e institucionais.
            A vida dos católicos, a face da Igreja Católica e a história da sociedade estão intimamente relacionadas a dois Franciscos. O primeiro Francisco entrou na história pela autenticidade de sua vida pessoal e eclesial, sem ter consciência, obviamente, do alcance que teria a sua vocação. Os católicos veneram São Francisco com especial reconhecimento de seu valor, como amigo da natureza, como tecedor de fraternidade, como exemplo de santidade. De fato, São Francisco de Assis fala à humanidade, ao longo dos tempos, como confirma uma pesquisa realizada nos Estados Unidos: “No ano 2000 a revista americana Life, publicou uma pesquisa onde apontava Francisco de Assis como o maior homem do milênio que terminava, ou seja, entre todos que viveram entre o ano 1000 e o 2000, ninguém foi maior que São Francisco.” Apesar de ser um simples, pobre e humilde religioso, há um reconhecimento eloquente da sua influência na humanidade, daí essa escolha como a personalidade mais importante do segundo milênio.
            Mesmo tendo precedentes em em séculos passados, o gesto humilde e corajoso da renúncia do Papa Emérito, Bento XVI, teve sua leitura na ótica da midia: “Bento, em que pese o pouco carisma e a visão doutrinária conservadora, pode ser visto como um revolucionário e demonstrou ter, sim, louváveis razões para mudar o curso da Santa Sé.” Por sua vez, a eleição do Papa Francisco, dentro e fora do mundo elesiástico, está sendo vista como como um novo tempo na vida dos católicos, no seio da Igreja Católica e na história da sociedade. Apesar de se saber que seu ministério petrino não trará mudanças fundamentais de natureza doutrinal, dado que o “tesouro da fé” é intocável, já se enxerga o seu pontificado por suas primeiras sinalizações na linha da naturalidade dos gestos, da simplicidade da vida, da prudência dos atos, da sobriedade da gestão eclesial e da firmeza das decisões.
            Como Francisco de Assis, o Papa Francisco fala ao coração dos cristãos, estimula a Igreja na busca da Nova Evangelização e cativa a sociedade. Nos caminhos percorridos de sua vida de Jesuíta, de Bispo Auxiliar, de Cardeal Arcebispo de Buenos Aires e de Presidente da Conferência Episcopal Argentina, a sua experiência pastoral sempre o teve próximo do povo, especialmente dos pobres que vivem nas periferias. Todos têm muito a aprender com o Papa Francisco que demonstra muita sensibilidade, ao encontrar as pessoas e ao ouvir a sua voz, na oração, no silêncio. Sem dúvida, todos se sentiram parte de sua vida, quando o Papa Francisco, curvado, reverentemente, ante a multidão na Praça de São Pedro, pediu: “Antes de abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu Bispo”.
            Os tempos de Francisco de Assis e do Papa Francisco, diversos no contexto e distantes na história, estão muito próximos, enquanto remetem as pessoas à comunhão com seus irmãos e com Deus.

                                                           Dom Genival Saraiva
                                                           Bispo de Palmares - PE

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