Tempos de Francisco
É muito
importante saber fazer a leitura de acontecimentos, quaisquer que sejam, pelo
signficado que têm para a vida das pessoas, das instituições e da própria
sociedade. Afinal, em princípio, nada é neutro, nada é indiferente porque nenhuma
pessoa é insensível, nenhuma é impermeável. Portanto, tudo que acontece na vida
das pessoas, no âmbito das instituições e na história da socidade tem o seu
porquê. Mais do que isso, tem suas consequências, uma vez que estão
entrelaçados muitos elementos existenciais e institucionais.
A vida
dos católicos, a face da Igreja Católica e a história da sociedade estão
intimamente relacionadas a dois Franciscos. O primeiro Francisco entrou na
história pela autenticidade de sua vida pessoal e eclesial, sem ter
consciência, obviamente, do alcance que teria a sua vocação. Os católicos
veneram São Francisco com especial reconhecimento de seu valor, como amigo da
natureza, como tecedor de fraternidade, como exemplo de santidade. De fato, São
Francisco de Assis fala à humanidade, ao longo dos tempos, como confirma uma pesquisa
realizada nos Estados Unidos: “No ano 2000 a revista americana Life, publicou
uma pesquisa onde apontava Francisco de Assis como o maior homem do milênio que
terminava, ou seja, entre todos que viveram entre o ano 1000 e o 2000, ninguém
foi maior que São Francisco.”
Apesar de ser um simples, pobre e humilde religioso, há um reconhecimento
eloquente da sua influência na humanidade, daí essa escolha como a
personalidade mais importante do segundo milênio.
Mesmo
tendo precedentes em em séculos passados, o gesto humilde e corajoso da
renúncia do Papa Emérito, Bento XVI, teve sua leitura na ótica da midia:
“Bento, em que pese o pouco carisma e a visão doutrinária conservadora, pode
ser visto como um revolucionário e demonstrou ter, sim, louváveis razões para
mudar o curso da Santa Sé.” Por sua vez, a eleição do Papa Francisco, dentro e
fora do mundo elesiástico, está sendo vista como como um novo tempo na vida dos
católicos, no seio da Igreja Católica e na história da sociedade. Apesar de se
saber que seu ministério petrino não trará mudanças fundamentais de natureza
doutrinal, dado que o “tesouro da fé” é intocável, já se enxerga o seu
pontificado por suas primeiras sinalizações na linha da naturalidade dos
gestos, da simplicidade da vida, da prudência dos atos, da sobriedade da gestão
eclesial e da firmeza das decisões.
Como
Francisco de Assis, o Papa Francisco fala ao coração dos cristãos, estimula a
Igreja na busca da Nova Evangelização e cativa a sociedade. Nos caminhos
percorridos de sua vida de Jesuíta, de Bispo Auxiliar, de Cardeal Arcebispo de
Buenos Aires e de Presidente da Conferência Episcopal Argentina, a sua
experiência pastoral sempre o teve próximo do povo, especialmente dos pobres que
vivem nas periferias. Todos têm muito a aprender com o Papa Francisco que demonstra
muita sensibilidade, ao encontrar as pessoas e ao ouvir a sua voz, na oração,
no silêncio. Sem dúvida, todos se sentiram parte de sua vida, quando o Papa
Francisco, curvado, reverentemente, ante a multidão na Praça de São Pedro,
pediu: “Antes de abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me
abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu Bispo”.
Os
tempos de Francisco de Assis e do Papa Francisco, diversos no contexto e
distantes na história, estão muito próximos, enquanto remetem as pessoas à
comunhão com seus irmãos e com Deus.
Dom
Genival Saraiva
Bispo
de Palmares - PE
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