terça-feira, 17 de julho de 2012

Voz do silêncio

A sociedade moderna é marcadamente caracterizada pela agilidade da comunicação e pela intensidade do barulho. Os veículos de comunicação de massa mantêm as pessoas muito próximas dos acontecimentos independentemente do local em que se registrem; por outro lado, quando estão próximas, fisicamente, sua individualidade, quase sempre, é comprometida pela quebra da tranquilidade, da paz, do silêncio. O organismo humano necessita de terapêuticos momentos de silêncio, a tagarelice não enseja o diálogo e o barulho afeta o bem-estar comunitário.

O silêncio sempre é benéfico nas relações da pessoa com seus semelhantes e com Deus. Biblicamente, o silêncio é uma linguagem de comunhão e de comunicação com Deus. No Antigo Testamento, são conhecidas diversas teofanias. “Teofania é um termo teológico que serve para indicar qualquer manifestação temporária e normalmente visível de Deus.” O autor dessa afirmação já se apressa em “distinguir de forma enfática que há uma grande diferença entre a Teofania (que é uma manifestação temporária) e a Encarnação (que é uma manifestação permanente)”, quando Jesus assumiu a condição humana.

Entre as principais teofanias da natureza estão nuvem, fogo, trovão, terremoto, vento, redemoinho; houve teofanias espirituais, como os anjos, e teofanias humanas, como Moisés com sua face ardente. O povo via nesses elementos da natureza o sinal da presença de Deus, enquanto os anjos eram sempre portadores de mensagem divina e os homens eram interlocutores. No Antigo Testamento, há o caso de uma teofania do silêncio, quando Elias “esperava a vinda do Senhor com grande alarido, como um terremoto ou como um incêndio, ou como um temporal como contavam as teofanias do Antigo Testamento.” Deus revelou-se através do “murmúrio de uma leve brisa” (1Rs 19). Elias estava em desencontro com sua vocação, em desencontro com sua missão, estava em fuga. Numa de suas catequeses, numa audiência, em junho de 2012, escreveu Bento XVI, a esse respeito: “Na história religiosa do antigo Israel, tiveram grande relevância os profetas com o seu ensinamento e a sua pregação. Entre eles, sobressai a figura de Elias, suscitado por Deus para levar o povo à conversão. O seu nome significa ‘o Senhor é o meu Deus’ e é em sintonia com este nome que se desenvolve a sua vida, inteiramente consagrada a provocar no povo o reconhecimento do Senhor como único Deus. De Elias, o Ben Sirá diz: ‘Levantou-se depois o profeta Elias, ardoroso como o fogo; as suas palavras ardiam como uma tocha’ ( Ecl 48, 1). Com esta chama, Israel volta a encontrar o seu caminho para Deus. No seu ministério, Elias reza: invoca o Senhor para que restitua a vida ao filho de uma viúva que o tinha hospedado (cf. 1 Rs 17, 17-24), clama a Deus o seu cansaço e a sua angústia, enquanto foge para o deserto procurado pela rainha Jezabel que o queria matar (cf. 1 Rs 19, 1-4), mas é sobretudo no monte Carmelo que se mostra em todo o seu poder de intercessor quando, diante de todo o Israel, reza ao Senhor para que se manifeste e converta o coração do povo.”

 Nas celebrações da Igreja, na voz do silêncio, como Elias, os fiéis ouvem a voz de Deus, na forma de escuta, reflexão, contemplação e oração. A pastoral litúrgica tem um caminho a percorrer, no sentido de educar mais e melhor a comunidade cristã para o silêncio litúrgico que também é prejudicado pelo uso de instrumentos estridentes e pelo vozerio das pessoas, durante as celebrações.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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