quarta-feira, 29 de julho de 2015

Artigo: O Pão Partilhado

Jesus se apresenta como o Pão da Vida, que multiplica os pães, saciando a fome da multidão (cf. Jo 6,1-15). O pão recorda que não possuímos a vida de modo absoluto. Devemos sempre renová-la e lutar por ela. Precisamos, sim, do pão de cada dia. E, não podemos, sozinhos, prover-nos de pão: é Deus quem faz a chuva cair, quem torna o solo fecundo, quem dá vigor à semente. Assim, a vida humana está continuamente na dependência do Senhor. Portanto, todos necessitamos do pão nosso de cada dia – e este é dom de Deus. 

Ao multiplicar os pães, Jesus apresenta-se como aquele que dá vida, que nos sacia com o sentido da existência. Pois, não há vida de verdade para quem vive sem saber o sentido do viver. Ele, num lugar deserto, manda o povo sentar-se sobre a relva, toma uns pães e uns peixes, dá graças, parte, e os distribui multiplicando-os. Todos comeram e ficaram saciados. Só que o povo, após o milagre, foi à procura do Senhor e ele repreendeu duramente a multidão: "Vós me procurais não porque vistes os sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados!" Que sinal o povo deveria ter visto? Recordemos o trecho: "Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo" (Jo 6,14). Veja: o povo até que começou a discernir o sentido do milagre de Jesus; mas, logo depois, fascinado simplesmente pelo pão material, pelas necessidades de cada dia, esquece o sinal. Que sinal? Que Jesus é o Novo Moisés, aquele profeta que o próprio Moisés havia anunciado em Dt 11,18: "O Senhor Deus suscitará no vosso meio um profeta como eu". Como Moisés, Jesus reúne o povo num lugar deserto, como Moisés, sacia o povo com o pão. Mas, Jesus é mais que Moisés: ele é o Deus-Pastor que faz o rebanho repousar em verdes pastagens e lhe prepara uma mesa. Era isso que o povo deveria ter compreendido; foi isso que não compreendeu. 

Hoje, compreendemos os sinais de Cristo em nossa vida? Os gestos de Jesus na multiplicação dos pães é também prenúncio da Eucaristia. Os quatro gestos por ele realizados – tomou o pão, deu graças, partiu e deu – são os gestos da Última Ceia e de todas as ceias que celebram o sacrifício eucarístico do Senhor. Na Missa, tornam-se presentes os gestos do Senhor, dado em sacrifício e recebido em comunhão. 

Deus conta, hoje, com o pouco que podemos oferecer para multiplicar o pão, assim como Jesus contou com a colaboração das pessoas para realizar tantos outros milagres, “sinais” da chegada do Reino.  Não se oferece apenas o que sobra ou que tem pouco valor, mas o que se tem e que se considera importante. Os bens partilhados são dons de Deus. 

Infelizmente, há muita indiferença perante o drama da miséria e da fome no mundo. É preciso partilhar generosamente e acabar com a corrupção. Coloquemos nossa fé em Jesus Cristo, o verdadeiro Pão, que vem saciar a nossa fome de vida e que, através de nós, apesar da nossa fragilidade e pequenez, quer saciar a fome sofrida por tanta gente: fome do pão cotidiano nas casas, fome do pão da Palavra e da Eucaristia. 

Portanto, não deve faltar a fé em Deus, que sacia a nossa fome, assim como, a disposição em partilhar os nossos bens com os necessitados. A celebração eucarística, no qual partilhamos o Pão da Vida, seja fonte e sustento da partilha do pão cotidiano. É partilhando o pão da vida que podemos enfrentar com fraternidade as necessidades deste mundo.

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Guarabira(PB)

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