segunda-feira, 9 de março de 2015

Artigo: A restauração do ser humano


A Quaresma nos prepara para celebrar bem a páscoa. Hoje somos chamados a viver a restauração da nossa existência a partir do símbolo do templo (cf. Jo 2,13-25). O Templo é o lugar do encontro de Deus com seu povo. Não pode ser transformado em casa de comércio, de idolatria. É idolatria a ganância, a impiedade, reduzir a religião a um negócio lucrativo, pensar que se pode manipular Deus com um rito ou com um exemplar da Bíblia! O Senhor previne: "Eu sou o Senhor vosso Deus que não aceita suborno" (Dt 10,17).  Por isso Jesus age radicalmente contra aqueles que não zelam o templo. Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco dele! Correremos o risco de perdê-lo, de sermos rejeitados do seu coração!

Quando a infidelidade é grande, quando o nosso coração habituou-se no mal, corremos o risco de sermos tomados de tal cegueira, de tal dureza de coração, que já não vemos nem com a Luz! Jesus é a luz que brilha claramente. Sua atitude dura, recorda o amor de Deus que foi traído, e muitos ainda pedem por sinais. Jesus dá um sinal, decisivo: "Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei". Jesus fala do templo do seu corpo. O corpo ressuscitado de Jesus é o novo templo.

Jesus mostra que a verdadeira habitação entre os seres humanos é Ele mesmo, o seu corpo. Assim quem desrespeita o templo está desrespeitando a sua pessoa, o próprio Deus e toda a pessoa humana, chamada a ser templo de Deus.

O templo de Deus entre os homens será destruído, mas será levantado em três dias. Jesus ressuscitado é o templo indestrutível. Ele é o lugar onde um novo povo poderá para sempre encontrar Deus. Eis o sinal, surpreendente: à infidelidade do seu povo, Deus responde entregando o seu Filho e fazendo dele o lugar da salvação e da graça, da vida e da vitória da humanidade!

Jesus restaura, assim, o verdadeiro sentido do templo. Os templos de hoje também devem ser espaços privilegiados de encontro pessoal e comunitário com Deus, por meio da oração e das celebrações litúrgicas. Ninguém pode deturpar o sentido do templo, por interesses gananciosos e próprios.

Olhemos o Crucificado, cujo corpo esmagado é o lugar do perdão, da misericórdia e do encontro com Deus. Sabemos: "Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16).

A restauração do ser humano pecador passa pela renúncia de si mesmo, pela mortificação, pela conversão. Somos chamados a viver a restauração da nossa existência. A Palavra de Deus se torna hoje ocasião de restauração quaresmal. Ela nos impele com uma força incomum a nos lavar, a nos purificar, a tirar o mal que há em nossas ações.

Mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo de real conversão ao Senhor nosso! Convertamo-nos! Jesus nos conduz às alegrias da Páscoa!

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Guarabira(PB)


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