terça-feira, 17 de março de 2015

Artigo: Probidade administrativa


            As pessoas percebem a índole de muitos de seus concidadãos, conforme a natureza de sua administração. Com efeito, no dia a dia, todo indivíduo exerce um tipo de administração, desde o “flanelinha” nas ruas das cidades ao gestor mais graduado do serviço público e da iniciativa privada. Cada um administra, à sua maneira, seu trabalho, no âmbito de seu “território”. Dada a importância dessa atuação, a administração tornou-se objeto de investigação da ciência e a escola a incluiu entre os cursos de formação acadêmica, qualificando os profissionais que desempenham sua atividade, com eficiência, porque contam com os conhecimentos e as técnicas da logística administrativa. Ainda hoje, todavia, encontram-se administradores que, graças ao seu bom senso, exercem seu trabalho com reconhecida qualidade. O livro do Êxodo apresenta um exemplo nessa linha: “No dia seguinte Moisés sentou-se para julgar as questões do povo, e o povo ficou diante dele desde a manhã até a tarde. Vendo tudo isso que fazia pelo povo, o sogro de Moisés disse: ‘Que estás fazendo com o povo? Por que apenas tu ficas aí sentado, com tanta gente parada diante de ti desde a amanhã até à tarde?’ Moisés respondeu ao sogro: ‘É que o povo vem a mim para consultar Deus. Quando têm alguma questão, vêm a mim para que decida e lhes comunique os decretos e as leis de Deus.’ Mas o sogro de Moisés disse-lhe: ‘Não está bem o que fazes. Acabarás esgotado, tu e este povo que está contigo. É uma tarefa acima de tuas forças. Não poderás executá-la sozinho. Agora escuta-me: vou dar-te um conselho e, e que Deus esteja contigo. Tu deves representar o povo diante de Deus e levar a Deus os problemas. Esclarece o povo a respeito dos decretos e das leis, e dá-lhe a conhecer o caminho a seguir e o que devem fazer. Mas procura entre todo o povo homens de valor, que temem a Deus, dignos de confiança e inimigos do suborno, e estabelece-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles julgarão o povo em casos cotidianos. A ti levarão as questões de importância maior, decidindo eles mesmos os menores. Assim eles repartirão contigo o peso e tu ficarás aliviado. Se assim procederes, serás capaz de manter-te de pé quando Deus te der ordens, e o povo poderá chegar em segurança a seu destino.” (Ex 18,13-23) Aqui está o exemplo de um administrador de bom senso que escolhe como auxiliares homens de valor, tementes a Deus, dignos de confiança, inimigos do suborno. Nisso consiste sua probidade administrativa: “Agir de forma reta e honesta não somente de acordo com as normas, como também de acordo com a ética (código de ética do servidor), dentro dos princípios de moralidade.”

            Hoje, lamentavelmente, a sociedade conhece “n” casos de improbidade, praticados por administradores públicos e por gestores privados. Embora cifras financeiras desses desmandos administrativos possam ser estimadas, os prejuízos sociais e os efeitos econômicos são incalculáveis. Os casos da “ordem do dia”, amplamente divulgados pela mídia, envolvendo políticos e empresários, atestam que a sociedade está diante de uma crise de natureza axiológica, de uma crise de valores. Por isso, há uma crise de confiança nas instituições e de credibilidade nas pessoas, por falta de probidade administrativa.
                                                        
   Dom Genival Saraiva

      Bispo Emérito de Palmares - PE

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