sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mulheres Ricas e pecados do poder - Dom Genival Saraiva


“Os não-judeus se alegraram, quando ouviram isso, e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna abraçaram a fé. Deste modo, a palavra do Senhor espalhava-se por toda a região. Mas os judeus instigaram as mulheres ricas e religiosas e os homens influentes da cidade, provocaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé e os expulsaram do seu território. Então os apóstolos sacudiram contra eles a poeira dos pés e foram para Icônio. E os discipulos ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo.” (At 13, 48-52). Segundo os exegetas, essas ricas mulheres pagãs “simpatizavam com o judaísmo”; daí porque, instigadas pelos judeus, se unem aos que perseguem Paulo e Barnabé. Elas são identificadas por esse perfil: “ricas e religiosas”. Jesus, no Evangelho, põe em cheque as pessoas que fazem da riqueza o tesouro do seu coração e para quem o conservadorismo da religião é algo intocável, tal como concebiam e observavam os fariseus, escribas e doutores da lei. Na verdade, a frieza da riqueza sempre contém o perigo do fechamento a valores humanos como solidariedade, socialização, justiça e caridade. Por sua vez, pessoas com uma prática religiosa, acentuadamente ritualista, se distanciam de Jesus e de seus discípulos, como ocorreu com essas mulheres de Antioquia da Pisídia.

Todavia, o Evangelho de Lucas registra a participação de mulheres que seguem Jesus e apoiam a missão com “seus bens”: “Depois disso, Jesus percorria cidades e povoados proclamando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças: Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens.” (Lc 8, 1-3). Portanto, algumas dessas mulheres que “testemunharam a sua morte e ressurreição, serviam-no nas suas necessidades materiais.” “As mulheres se destacam no seguimento de Jesus, acompanhando-o e acolhendo-o. Era inconcebível para um rabino da época de Jesus e dos evangelhos ter um grupo de mulheres que abandonassem o próprio lar para segui-lo, viajando com o seu grupo, na qualidade de discípulas, mas, por meio do evangelho ficamos sabendo que um grupo de mulheres seguiu Jesus, servindo e subindo com Ele da Galiléia até Jerusalém, um deslocamento geográfico concreto (Lc 8,1-3).” “Jesus, com certeza, quebrou com várias regras estabelecidas pela comunidade judaica, e dar um papel mais importante às mulheres dentro de seu grupo foi uma dessas regras. Cristo conversava diretamente com elas, ministrando-lhes conhecimentos sagrados, tal como fez com Maria de Betânia, irmã de Marta e com a Samaritana; e se deixava tocar por mulheres consideradas impuras pelos judeus tradicionais.”

Na história da Igreja primitiva, as mulheres continuam presentes e “Paulo em suas epístolas, cita algumas mulheres que tinham tarefas de evangelização dentro da comunidade, tais como Febe, diaconisa da Igreja da Cencréia, Maria, ‘que muito fez pela comunidade romana’; e Júnia chamada de ‘apóstola’ (Romanos, cap16 v 1-8).”

Os poderes social, religioso e político facilmente se unem para criar embaraços ao trabalho de lideranças comprometidas com ações inovadoras e transformadoras, perseguindo-as e, em muitos casos, levando-as à morte. Porém, as riquezas e os bens materiais, quando devidamente usados, podem apoiar, solidariamente, o trabalho de pessoas empenhadas na construção da justiça e da paz social. Hoje, as mulheres, de todas as classes sociais, estão muito presentes na prática pastoral da Igreja, nas comunidades, de forma muito visível.

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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