segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Acab e pecados do poder - Dom Genival Saraiva

“Depois disso aconteceu o seguinte: Nabot, o jezraelita, possuía em Jezrael uma vinha ao lado do palácio de Acab, rei de Samaria. Acab falou a Nabot: ‘Cede-me tua vinha, para que eu a transformenuma horta, pois fica perto da minha casa. Em troca eu te darei uma vinha melhor, ou, se preferires, pagarei seu valor em dinheiro’. Mas Nabot respondeu a Acab: ‘O Senhor me livre de te ceder a herança de meus pais’. Acab voltou para casa aborrecido e irritado por causa da resposta de Nabot de Jezrael: ‘Não te cederei a herança de meus pais’. Deitou-se na cama, com o rosto para a parede, e não quis comer. Sua mulher Jezabel aproximou-se dele e disse-lhe: ‘Por que estás triste e não queres comer?’ Ele respondeu: ‘Eu conversei com Nabot de Jezrael e lhe fiz a proposta de me ceder sua vinha por seu preço em dinheiro, ou, se preferisse, em troca de outra vinha. Mas ele respondeu que não me cede a Vinha’. Então sua mulher Jezabel disse-lhe: ‘Mostra agora que tu exerces o reinado em Israel! Levanta-te, toma alimento e fica de bom humor, pois eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael’. Ela escreveu então cartas em nome de Acab, lacrou-as com o selo real e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade de Nabot. Nas cartas estava escrito o seguinte: ‘Proclamai um jejum e convocai Nabot diante da assembléia. Subornai dois vagabundos contra ele, que deem este testemunho: ‘Tu amaldiçoaste a Deus e ao rei!’ Levai o depois para fora e apedrejai-o até a morte’. Os homens da cidade, anciãos e nobres concidadãos de Nabot, fizeram conforme a ordem recebida de Jezabel, como estava escrito nas cartas que lhes tinha enviado. Proclamaram um jejum e convocaram Nabot diante da assembléia. Assim apresentaram-se dois vagabundos, que tomaram lugar na frente de Nabot e testemunharam contra ele perante toda a assembleia: ‘Nabot amaldiçoou a Deus e ao rei’. Em virtude disso, levaram-no para fora da cidade e mataram-no a pedradas. Depois mandaram a notícia a Jezabel: ‘Nabot foi apedrejado e está morto’. Ao saber que Nabot tinha sido apedrejado e estava morto, Jezabel disse a Acab: ‘Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael não te quis ceder por dinheiro; pois Nabot já não vive, está morto’. Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer até a vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse. Então a palavra do Senhor veio a Elias, o tesbita, dizendo: ‘Levanta-te e desce ao encontro de Acab, rei de Israel, que reina em Samaria. Ele está na vinha de Nabot, aonde desceu para dela tomar posse. Isto lhe dirás: ‘Assim fala o Senhor: Tu mataste e ainda por cima roubas!’ E acrescentarás: ‘Assim fala o Senhor: No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o teu’.” (1Re 21,1-21) Para obter seu intento, Acab é instigado e coadjuvado por sua mulher que tramou a morte de Nabot. Como governante, para se apossar da vinha, Acab agiu com cobiça e ganância.

O acúmulo de bens materiais, por meios desonestos, é uma prática muito generalizada, no mundo inteiro, que tem levado ao pecado pessoas que têm poder político, econômico e social; com efeito, em vista da consecução desse objetivo, elas agem, de forma incontida, considerando válidos todos os meios que estão ao seu alcance, mesmo que isso implique a morte de alguém.

Acab continua tendo seguidores, também no Brasil. Há proprietários, movidos por cobiça geradora de injustiça nas relações interpessoais, que aumentam seu patrimônio, mediante a pressão sobre pequenos agricultores que vendem suas terras, iludidos por aparente vantagem financeira. Há ricos que, num flagrante desrespeito à Lei, compram parcelas de terras desapropriadas pelo INCRA para a Reforma Agrária, para construção de casas e pousadas, conforme denúncia recente da midia. Há grileiros, movidos por ganância causadora de prejuízo social, que se apropriam de terras que não lhes pertencem, sob a complacência de autoridades constituídas.


Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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