Desde a minha nomeação, no dia 12 de
fevereiro deste, que escuto as pessoas do Seridó falarem de Santana com devoção
e empolgação. Falam da festa de Santana como um grande evento, um “patrimônio
imaterial”.
Aproxima-se a festa de Santana, mais
uma festa para tantas pessoas, a primeira festa que participarei aqui no nosso
sertão do Seridó. Se para muitos cresce a ansiedade, na medida em que a festa
se aproxima, para mim cresce a expectativa. Quero ver com os meus próprios
olhos aquilo que tantos outros olhos viram e se encantaram, que tantas bocas
falaram e falam até hoje.
Confesso a vocês que até o presente
momento, Santana é uma ilustre desconhecida. Nunca trabalhei numa comunidade
que tivesse Santana como padroeira e não sabia dizer muita coisa a respeito
dela, a não ser que ela é a esposa de S. Joaquim, a mãe de Maria, a avó de
Jesus e a sogra de José.
Com certeza ela representa muito
mais do que isso, do contrário não haveria uma devoção tão grande. Procurarei,
nesta primeira festa que participarei como bispo de Caicó, ver o que os meus
olhos ainda não viram, mas que tantas pessoas se encantaram.
Quando eu vou a Aparecida, paro
diante da imagem da padroeira do Brasil para rezar. Mais do que rezar olhando
para aquela imagem pequenina, rezo contemplando o rosto de tantas pessoas
humildes admirando a imagem da Negra Aparecida. Tento ler e ver quantas
histórias de sofrimento, de alegria, de graça, de fé que estão por trás
daqueles olhares. Peço o Virgem Aparecida que interceda ao Pai para que eu
possa ter uma fé semelhante à fé vivida por aquelas pessoas simples.
Na festa de Santana procurarei ver em
cada olhar que contempla a imagem, a alma do seridoense, as histórias que estão
contidas em cada olhar, escritas no olhar de Santana. Pedirei que minha alma
carioca com sangue alagoano vá assimilando elementos da alma seridoense, que a
minha fé cresça e amadureça como a fé do homem do sertão nordestino, que é
forte como o mandacaru, que resiste a secura da dor, desde que haja um pingo de
gota da graça de Deus.
Se é verdade que cada pessoa projeta e
transfere para aquilo que vê, o que carrega no seu coração; também é verdade
que um santo é um reflexo de Deus, um espelho opaco do olhar do criador.
Procurarei ver em Santana uma faceta da Trindade, que como mãe sábia gera,
cuida e educa todas as gerações futuras.
Na Missa da Terra Sem Males, o canto pós
comunhão, lembrando a Virgem de Guadalupe, diz: “Morena de Guadalupe, morena do
Tepeyac, congrega todos os índios na estela do teu olhar”. Plagiando este hino
gostaria de dizer: Santana de Caicó, Santana do Seridó, congrega toda a diocese
no brilho do teu olhar. Que o nosso olhar esteja na mesma direção do olhar de
Santana, que olha para Maria, que olha para Jesus, que olha para o Pai e por
todos nós. Que tenhamos “olhos fixos em Jesus”.
Que venha a festa de Santana!
Santana de Caicó, de Currais Novos, do
Seridó e de todos nós, intercedei por nós. Amém.
Dom Antonio Carlos, msc
Bispo de Caicó-RN
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