sexta-feira, 18 de julho de 2014

Artigo: Sant’Ana de todos nós


            Desde a minha nomeação, no dia 12 de fevereiro deste, que escuto as pessoas do Seridó falarem de Santana com devoção e empolgação. Falam da festa de Santana como um grande evento, um “patrimônio imaterial”.

            Aproxima-se a festa de Santana, mais uma festa para tantas pessoas, a primeira festa que participarei aqui no nosso sertão do Seridó. Se para muitos cresce a ansiedade, na medida em que a festa se aproxima, para mim cresce a expectativa. Quero ver com os meus próprios olhos aquilo que tantos outros olhos viram e se encantaram, que tantas bocas falaram e falam até hoje.

            Confesso a vocês que até o presente momento, Santana é uma ilustre desconhecida. Nunca trabalhei numa comunidade que tivesse Santana como padroeira e não sabia dizer muita coisa a respeito dela, a não ser que ela é a esposa de S. Joaquim, a mãe de Maria, a avó de Jesus e a sogra de José.

            Com certeza ela representa muito mais do que isso, do contrário não haveria uma devoção tão grande. Procurarei, nesta primeira festa que participarei como bispo de Caicó, ver o que os meus olhos ainda não viram, mas que tantas pessoas se encantaram.

            Quando eu vou a Aparecida, paro diante da imagem da padroeira do Brasil para rezar. Mais do que rezar olhando para aquela imagem pequenina, rezo contemplando o rosto de tantas pessoas humildes admirando a imagem da Negra Aparecida. Tento ler e ver quantas histórias de sofrimento, de alegria, de graça, de fé que estão por trás daqueles olhares. Peço o Virgem Aparecida que interceda ao Pai para que eu possa ter uma fé semelhante à fé vivida por aquelas pessoas simples.

Na festa de Santana procurarei ver em cada olhar que contempla a imagem, a alma do seridoense, as histórias que estão contidas em cada olhar, escritas no olhar de Santana. Pedirei que minha alma carioca com sangue alagoano vá assimilando elementos da alma seridoense, que a minha fé cresça e amadureça como a fé do homem do sertão nordestino, que é forte como o mandacaru, que resiste a secura da dor, desde que haja um pingo de gota da graça de Deus.

 Se é verdade que cada pessoa projeta e transfere para aquilo que vê, o que carrega no seu coração; também é verdade que um santo é um reflexo de Deus, um espelho opaco do olhar do criador. Procurarei ver em Santana uma faceta da Trindade, que como mãe sábia gera, cuida e educa todas as gerações futuras.

Na Missa da Terra Sem Males, o canto pós comunhão, lembrando a Virgem de Guadalupe, diz: “Morena de Guadalupe, morena do Tepeyac, congrega todos os índios na estela do teu olhar”. Plagiando este hino gostaria de dizer: Santana de Caicó, Santana do Seridó, congrega toda a diocese no brilho do teu olhar. Que o nosso olhar esteja na mesma direção do olhar de Santana, que olha para Maria, que olha para Jesus, que olha para o Pai e por todos nós. Que tenhamos “olhos fixos em Jesus”.

Que venha a festa de Santana!

Santana de Caicó, de Currais Novos, do Seridó e de todos nós, intercedei por nós. Amém.

Dom Antonio Carlos, msc 
Bispo de Caicó-RN

0 comentários:

Postar um comentário