Mensagem enviada pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, em
nome do Papa Francisco, ao Presidente da 3ª Conferência de
Revisão da Convenção sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção
e Transferência das Minas Antipessoais e sobre a sua Destruição,
realizada em Maputo de 23 a 27 Junho.
O recurso às armas è uma derrota para todo
Senhor Presidente,
É com grande alegria e consideração que o Papa Francisco aproveita a
oportunidade da realização da 3ª Conferência da Revisão da Convenção sobre
minas antipessoais para se dirigir, através de Vossa Excelência, a todos os
Estados signatários, às Organizações internacionais e à sociedade civil. Seja-me
permitido exprimir de modo particular a minha solidariedade e o meu afeto a
todas as vítimas das minas antipessoais. Eles trazem no seu corpo e na sua
vida, os sinais de uma arma desumana, uma arma irresponsável, uma arma de
cobardes. As feridas nos recordam que o recurso às armas em geral, e às minas
em particular, representa uma derrota para todos.
Esta conferência de revisão é uma oportunidade para voltar ao trabalho
considerável já feito e para olhar para o futuro, porque ainda há grandes
desafios a enfrentar. Mas é sobretudo uma ocasião para renovarmos os nossos
empenhos e tomar as decisões necessárias, para mudarmos o presente: o presente
de tantas famílias, comunidades, regiões e países que continuam a viver cada
dia com medo das minas, na insegurança e na pobreza. O ambiente que os rodeia
implica uma ameaça constante, enquanto que deveria uma fonte de fertilidade,
desenvolvimento e alegria de viver.
Senhor Presidente,
Cada pessoa está em busca da paz, o oposto do medo. As minas antipessoais são
subtis, porque prolongam a guerra e alimentam o medo, mesmo depois do fim dos
conflitos. Acrescentam à falha humana causada pela guerra um sentimento de medo
que prevalece no estilo de vida e altera a construção da paz. Este sentimento
destrói não apenas a pessoa que o sofre, mas também aquela que o impõe. A paz é
a alegria de viver, a confiança no dia-a-dia, no relacionamento de
fraternidade, de gratuidade, onde o interesse de todos só se pode encontrar na
partilha, na cooperação e na rejeição do ódio e da indiferença. Todas as
pessoas, vítimas directas ou indirectas das minas, estão lá para nos lembrar a
todo momento esta falha humana e o vazio do qual é a consequência.
Convenções como a das minas antipessoais ou das bombas de fragmentação não são
apenas frios marcos jurídicos, mas representam um desafio para todos aqueles
que procuram preservar e construir a paz e, em particular, de tutelar os mais
fracos. A dignidade humana é o que todos nós, forte ou fracos, ricos ou pobres,
temos em comum, para além das nossas diferentes limitações. A verdadeira
riqueza não é o dinheiro, a verdadeira força não são as armas. A verdadeira
felicidade está no amor, na partilha e na generosidade do coração .... Queremos
realmente a segurança, a estabilidade e a paz? Então reduzamos os nossos
arsenais de armas! Vamos banir as armas que não têm razão de ser numa sociedade
humana e investir na educação, na saúde, na preservação do nosso planeta, na
construção de sociedades mais solidais e fraternas com as suas diferenças, que
são um enriquecimento.
O Papa Francisco exorta a todos os actores deste maravilhoso empreendimento
humanitário a preservar a integridade da Convenção, a desenvolvê-la e a
implementá-la o mais fiel e rapidamente possível. O Papa Francisco exorta a
todos os países a empenhar-se no âmbito da Convenção, para que nunca mais haja
vítimas de minas! Para que nunca mais haja áreas afectadas pelas minas e, no
mundo, nenhuma criança viva com medo das minas!
Que esta Convenção, naquilo que ela tem de exemplar e profético na sua intuição
original, possa ser um modelo para outros processos, em particular para as
armas nucleares e outras armas que não deveriam existir. Coloquemos a pessoa
humana, as mulheres e os homens, as meninas e meninos, no centro dos nossos
esforços para o desarmamento. Que significado têm a paz, a segurança e a
estabilidade, se as nossas sociedades, as nossas comunidades e as nossas
famílias vivem constantemente no medo e no ódio destrutivo? Demos espaço à
reconciliação, à esperança e ao amor que se exprime no empenho para o bem
comum, na cooperação internacional para ajudar os mais vulneráveis dentre os
nossos irmãos e irmãs, para pôr em acto políticas fundadas na nossa dignidade
comum, ao serviço de um futuro necessariamente.
Senhor Presidente,
Em nome do Papa Francisco, gostaria de felicitá-lo e também Moçambique pelo
empenho em favor da Convenção e desejar a vós participantes nesta Conferência
todo o sucesso nos vossos trabalhos.
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