O
Papa Francisco publicou “A luz da fé” - Carta Encíclica iniciada por Bento XVI
para celebrar o presente Ano da Fé (2012-2013). A Carta visa ilustrar a
vivência da fé cristã, com amor e esperança, precedida por dois documentos que
abordam exatamente a Caridade (Deus é amor) e a Esperança (Salvos na esperança).
Na carta aos Hebreus, Jesus Cristo é apresentado como modelo, autor da fé,
ontem, hoje e por toda a eternidade (Hb.13,7-8). É Ele quem nos participa a sua
vida numa permanente comunhão de amor. O penhor do seu amor remete-nos à
construção da família, da sociedade e de um mundo melhor. O dom da fé leva-nos
a superar a dor e todo sofrimento que separa e que destrói a humanidade pelo
ódio e pela violência.
A fé é dádiva
divina do amor gratuito do Senhor que habita o nosso ser, pelo seu Espírito. O
Senhor vem em auxílio de nossa fraqueza. Ele conhece nossas limitações,
percalços, fugas, bloqueios, ou qualquer pecado contra o amor. O dom da fé,
presença do Senhor agindo em nós, ilumina a nossa inteligência, fortalece nossa
vontade, inspira nossos sentimentos, constrói-nos à sua imagem. A fé é um dom
inefável que ultrapassa os limites de nossa razão, porém, não invade os limites
da liberdade e da razão. A fé forma-nos e nos aperfeiçoa como seres humanos
novos, renovados no amor e na esperança.
Sem o dom da fé
é difícil amar a nós mesmos, aos outros e servir aos semelhantes, de todo o
coração, com todas as nossas forças. Quem crê ou quem não crê passa por
contradições e provações inexoráveis que fazem parte da vida. A fé desenvolve
em nós a compreensão, a aceitação, a reciprocidade solidária, sobretudo nos
momentos em que “o chão some dos nossos pés” diante de perdas, ilusões
desfeitas, decepções e sofrimentos inimagináveis. Mesmo que a gente se sinta
infeliz, abandonado, desprezado, encontramos o apoio no amor do Pai, na
esperança de dias melhores, buscando novos caminhos. Filho de Deus, Jesus foi
rejeitado, crucificado e morto numa cruz. Verdadeiro Deus e Homem, Jesus
abraçou a fé, o amor, a esperança.
Jesus,
sentindo-se abandonado pelo próprio Pai, a Ele se confiou e se entregou
gritando: “meu Deus, por que me abandonaste? Em tuas mãos entrego o meu
Espírito”. Redivivo, Jesus testemunha e doa a paz como vida no mesmo Espírito
que recebeu do Pai. Dom sobrenatural, a fé acompanha-nos permanentemente na
trajetória da existência. Nosso aprendizado evolutivo comporta o dom de Deus
que é Amor, inseparável do dom da fé, vinculada à esperança. A fé é dom que nós
recebemos em vista da construção do bem comum, da família, do trabalho, das
estruturas da sociedade.
O Papa Francisco
afirma que na época moderna a fé é vista como um salto no vazio que impede a
liberdade do homem. É importante ter fé e confiar com humildade e coragem no
amor misericordioso de Deus que endireita as distorções da nossa história.
Jesus atua na história. Assim como confiamos no arquiteto, no farmacêutico, no
advogado, que conhecem as coisas melhor do que nós, pela fé confiamos em Jesus,
especialista nas coisas do Pai. Sem a verdade a fé não salva. A fé não é
intransigente e quem crê não é arrogante. A verdade que vem do amor de Deus não
se impõe pela violência, não esmaga o indivíduo e torna possível o diálogo
entre fé e razão.
Hoje se vive uma
crise de verdade e se acredita apenas na tecnologia ou nas verdades de um
indivíduo. Teme-se o fanatismo e se prefere o relativismo. A evangelização é
essencial. A luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos e se transmite de
geração em geração, através das testemunhas da fé, pelos Sacramentos, como o
Batismo e a Eucaristia. A confissão de fé, o Credo cristão, a oração do Pai Nosso, envolvem o crente e o faz ver a vida com a verdade
de Cristo.
Dom Aldo Pagotto
Arcebispo
Metropolitano da Paraíba
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