segunda-feira, 8 de junho de 2015

Artigo: Praga apodrecida

O Papa Francisco proclamou, com bastante antecedência, o “Jubileu Extraordinário da Misericórdia”, através da Bula “Misericordiae vultus” (Rosto da misericórdia), afirmando, de início, que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.” Intencionalmente, o Papa chama os cristãos e a sociedade, em geral, a se colocarem diante da realidade do pecado, que manifesta as mais variadas formas do mal, vendo-a, porém, na ótica da misericórdia de Deus. A Bula do Papa Francisco tem três partes: “Na primeira, o Papa Francisco aprofunda o conceito de misericórdia e explica o porquê da escolha da data de início em 8 de dezembro, Solenidade de Maria (...) por coincidir com o 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II. (...) Na segunda parte, o Santo Padre oferece algumas sugestões práticas para celebrar o Jubileu. (...) Por fim, na terceira parte, Francisco lança alguns apelos contra a criminalidade e a corrupção - dirigindo-se aos membros de grupos criminosos e aos corruptos”.

Em qualquer situação, a misericórdia de Deus supõe, necessariamente, a conversão de quem pratica males como a criminalidade e a corrupção, como ensina o Papa. “O meu convite à conversão dirige-se, com insistência, ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço-vos isso em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer pecador. Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade. A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar. O mesmo convite chegue também às pessoas defensoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga apodrecida da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua preocupação e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para erradicá-la da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida. Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza.”

Criminalidade, um mal que atinge a dignidade da vida, e a corrupção, uma “praga apodrecida”, comumente, andam juntas porque têm protagonistas que seguem a mesma cartilha.
                                               
Dom Genival Saraiva

Bispo Emérito de Palmares - PE 

0 comentários:

Postar um comentário