O Papa Francisco proclamou, com bastante
antecedência, o “Jubileu Extraordinário da Misericórdia”, através da Bula
“Misericordiae vultus” (Rosto da misericórdia), afirmando, de início, que
“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.” Intencionalmente, o Papa chama
os cristãos e a sociedade, em geral, a se colocarem diante da realidade do
pecado, que manifesta as mais variadas formas do mal, vendo-a, porém, na ótica
da misericórdia de Deus. A Bula do Papa Francisco tem três partes: “Na primeira, o Papa Francisco aprofunda o conceito de
misericórdia e explica o porquê da escolha da data de início em 8 de dezembro,
Solenidade de Maria (...) por coincidir com o 50º aniversário da conclusão do
Concílio Vaticano II. (...) Na segunda parte, o Santo Padre oferece algumas
sugestões práticas para celebrar o Jubileu. (...) Por fim, na terceira parte,
Francisco lança alguns apelos contra a criminalidade e a corrupção -
dirigindo-se aos membros de grupos criminosos e aos corruptos”.
Em
qualquer situação, a misericórdia de Deus supõe, necessariamente, a conversão
de quem pratica males como a criminalidade e a corrupção, como ensina o Papa. “O
meu convite à conversão dirige-se, com insistência, ainda maior, àquelas
pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de
modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja
ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço-vos isso em
nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer
pecador. Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro
e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não
passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não
nos dá a verdadeira felicidade. A violência usada para acumular dinheiro que
transuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou
mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar. O mesmo convite
chegue também às pessoas defensoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga
apodrecida da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as
próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o
futuro com esperança, porque, com a sua preocupação e avidez, destrói os
projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos
diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma
contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro
como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a
intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo
indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para erradicá-la da
vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade,
transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate
abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida.
Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar
tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de
ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos
afetos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão
e tristeza.”
Criminalidade, um mal que atinge a
dignidade da vida, e a corrupção, uma “praga apodrecida”, comumente, andam juntas
porque têm protagonistas que seguem a mesma cartilha.
Dom
Genival Saraiva
Bispo
Emérito de Palmares - PE
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