quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Artigo: Voz da natureza


            A comunicação acontece como processo de interação, sob muitas formas, sendo inerente à condição humana, dada à sua sociabilidade. Na realidade, o ser humano não se realiza, plenamente, senão quando se comunica com os seus semelhantes e com seu ambiente social e natural. Muito embora exista desde os primórdios, a comunicação vem sendo estudada, com a devida atenção, em razão da abrangência de seu objeto que é um campo próprio da ciência dos tempos modernos.

            Uma linguagem da comunicação, rica de significado, é proporcionada ao ser humano pela própria natureza. Quem não se encanta com a leveza da brisa, a cor e o perfume da flor, o canto do pássaro, a água cristalina do córrego, o verde da floresta, o murmúrio da cascata, o volume de água do rio caudaloso, o nascer e por do sol, a altura da montanha, a planície que se estende no horizonte, o instinto de conservação e defesa dos animais, o espírito gregário dos rebanhos, o equilíbrio do beija-flor, ao sugar o néctar da flor, a mudança das estações e tantas outras expressões da voz silenciosa da natureza? Porventura, haverá quem não entenda a linguagem explícita da natureza que fala nos relâmpagos, raios e trovões, nas inundações inesperadas e estiagens prolongadas?

            Nada no mundo da natureza é obra do acaso. Antes de tudo, nela é visível a relação de causa e efeito; porém, a partir de certo estágio, esgota-se a capacidade de humana de identificar essa relação. Chegando a busca da razão ao seu limite de explicação, abre-se a via de encontrar essa relação fora do mundo da natureza. A filosofia e a teodiceia, portanto à luz da razão, buscaram essa via, com Platão e Aristóteles, entre os pagãos, e Agostinho e Tomás de Aquino, entre os cristãos; como pensadores, entendiam que a natureza, com a linguagem de sua regularidade e diversidade, tem um autor que lhe é superior. A teologia, fundamentada na Revelação, reconhece a ação de Deus criador. No campo da ciência, são muitas as pesquisas, na marcha da história, por parte de cientistas, em busca de explicação em torno da origem do cosmos.

            Em muitos casos, ciência e religião, razão e fé fazem uma leitura comum de assuntos diversos, dando-lhes uma interpretação, que pode ser convergente ou oposta, conforme seu enfoque. Sabidamente, o ângulo da fé não cria obstáculo ao desenvolvimento da ciência, na compreensão do mundo, no seu “fieri”, e na contemplação da natureza, em qualquer tempo e lugar. A profundidade da fé e a pequenez de quem crê, sem dúvida, representam a forma mais condizente para melhor se olhar a natureza. Por isso, o olhar sábio de pessoas simples enxerga melhor a natureza, em sua beleza e riqueza, e, por sua abertura de mente e coração, nela encontra Deus. Nesse sentido, a Bíblia é fértil na apresentação de exemplos. Daniel conclama a natureza a bendizer e louvar o Senhor, eternamente. (cf. Dn 3,57-88) O salmista, em muitas de suas orações, ao contemplar a natureza, eleva-se a Deus. (cf. Sl 135,1-9)

            A defesa do meio ambiente é uma questão que diz respeito a todas as pessoas. A educação para o respeito à natureza deve começar dentro de casa, a fim de que seja observada por todas as gerações, no campo e na cidade. Em termos de qualidade de vida, ninguém perde, ao tratar bem a natureza. É preciso estar atento à voz da natureza que fala de forma silenciosa, quando respeitada, ou explícita, quando agredida.


Dom Genival Saraiva

Bispo Emérito de Palmares - PE

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