A festa da exaltação da Cruz (dia 14 de
setembro) que neste ano ocorre num domingo, no 24º domingo do Tempo Comum,
interrompe a sequência da leitura do Evangelho segundo Mateus para proclamar o
Evangelho segundo João (Jo 3,13-17), proposto para esta festa litúrgica: “Assim
é necessário que o Filho do Homem seja levantado (na cruz), para que todos os
que nele crerem tenham a vida eterna (v. 15).
Exaltamos a cruz de Cristo como
mistério de amor e salvação, de fidelidade amorosa até a morte. O que era
instrumento de condenação, humilhação, maldição e morte cruel, torna-se sinal
de amor, vitória e salvação. A vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a
vingança e da vida sobre a morte. Na cruz, Cristo é elevado e glorificado. Deus
o exaltou acima de todas as coisas e, dEle, recebemos a vida eterna.
A cruz de Cristo está no centro da
nossa fé. Em si mesma, é um escândalo, sinal que Deus não liga para dor humana,
para a injustiça que massacra o inocente. Na cruz de Cristo está significada
toda a cruz do mundo e da humanidade: a cruz do inocente que sofre e dos
perseguidos injustamente. Nela estão presentes nossas perguntas: Por que tanto
sofrimento? Por que Deus se cala? Por que permite? Não pode compreender o
mistério da cruz quem não se deixa atingir e questionar por estas perguntas,
por estas dores, por estes prantos. Não pode proclamar o triunfo do Senhor quem
não suportou o absurdo da cruz do Senhor. Na cruz está significado tudo aquilo
que tanto nos apavora. E, no entanto, Jesus diz, que era necessário passar pela
cruz. Por que era necessário? Por que no caminho do Cristo e do cristão tem que
estar a cruz, bendita e maldita? Para mostrar-nos até onde o pecado nos levou e
até onde o amor de Deus está disposto a ir por nós.
Somos
um povo crucificado, porque nos afastamos da vida, que é Deus. Queremos
construir nossa existência sem Deus. Ora, Deus nos leva a sério, sofre conosco,
é solidário. Deus não nos explica o sofrimento. Toma-o sobre os ombros,
silencioso e cheio de piedade (cf. Fl 2,7). Deus quis assumir nossa história e
caminhar conosco. Inclinou-se, tornando-se homem, enquanto nós queríamos nos
elevar, e assumiu a condição de servo, sendo obediente até a morte na cruz,
para nos levantar (cf. Fl 2,7). Contemplar o mistério da cruz é deixar-se tocar
por todo o sofrimento humano. Mas também é compreender que Deus assumiu tudo em
Jesus crucificado e venceu tudo na ressurreição. Contemplar a cruz dá-nos a
graça de nunca perder a esperança, mesmo diante dos sofrimentos. Não perde a
confiança em Deus, não se desespera. Cristo fez da cruz um sinal de amor e
salvação.
Este
mistério é tão grande que por si só não podemos compreender bem nem entender,
mas experimentar profundamente a salvação. Aproximamo-nos deste mistério
somente de joelhos, em oração, e também através das lágrimas.
Com olhar voltado para o mistério central de nossa fé, pedimos a Deus
podermos sempre participar dos frutos da Redenção. E não só traçar o sinal da
cruz sobre nós com devoção, mas a viver nossa cruz unidos a Cristo, na
esperança da ressurreição.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Guarabira(PB)
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