sábado, 21 de fevereiro de 2015

Diocese de Guarabira: Romaria do Padre Ibiapina reúne mais de 20 mil peregrinos


Romaria ao Santuário de Santa Fé, no município de Solânea-PB, reuniu mais de 20 mil pessoas, na tarde da última quinta-feira (19). O evento marcou os 132 anos de falecimento do Pe. Ibiapiana. 

Durante todo o dia diversas celebrações aconteceram e à tarde o Bispo de Guarabira, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena presidiu a Santa Missa. Participaram mais de 32 padres da Diocese de Guarabira e de vários outros Estados nordestinos.

O Pe. Ibiapina, cujo processo de beatificação tramita no Vaticano, viveu no século XIX. Estava com 47 anos quando foi ordenado sacerdote e percorreu a pé e a cavalo os sertões nordestinos, onde fundava casas de caridade, acolhia órfãos e viúvas, construía Igrejas, como as de Bananeiras e Pilões, na Paraíba, e cemitérios para que os pobres fossem enterrados.

Na grande seca de 1877, quando ele já residia em Arara, não deixou que os pobres morressem de sede. Na pequena propriedade havia um açude que fornecia água para a população. “Achavam que ele estava louco”, nos conta o padre belga José Floren, atual Reitor do Santuário, pelo fato de continuar dando comida e água à população.Quando sugeriram que interrompesse o atendimento ele disse que preferiria morrer com os pobres. “Depois disso, era perto da festa da Conceição, começou uma grande chuva, após três longos anos de seca”, nos conta o Pe. Floren.

“O programa da Caridade é morrer com os pobres  sequiosos e famintos, e não de vê-los morrer à sede a fome. Essa é a lei fundamental da Caridade”, afirmou o Pe. Ernando Teixeira, historiador, numa referencia à missão do Pe. Ibiapina.

Ontem em Santa Fé, Dom Lucena, Bispo de Guarabira, assinalou que, em momentos de grande seca como a que estamos vivenciando, a mensagem de Ibiapina é mais e mais presente: a solidariedade para com os pobres e a necessidade de preservarmos a natureza.

Na opinião do Pe, Cristiano Mufller, que viajou mais de 900 quilômetros para participar da peregrinação, o Pe. Ibiapina foi um homem à frente de seu tempo. “Ele compreendeu como poucos a mensagem do Evangelho, pois viveu com os pobres, os ajudou e ensinou a libertação. Quando os pobres não tinham onde ser enterrados, pois os ricos eram sepultados nas Igrejas, fez mutirões e construiu cemitérios”, concluiu. O Pe. Cristiano, atualmente residindo em Salvador, foi um dos fundadores da Diocese de Guarabira, ao lado de Dom Marcelo Carvalheira.

O Pe. Ibiapina morreu em 19 de fevereiro de 1883 e seu corpo está sepultado na capela da Casa de Caridade, por ele construída, em Santa Fé. O processo de beatificação está em curso e o mesmo poderá ser beatificado em 2017, quando da visita do Papa Francisco ao Brasil.

PADRE IBIAPINA

[...] Ibiapina foi realmente uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil. [...] exemplos como o do padre Ibiapina – que,  sozinho, fundou e organizou vinte casas de caridade nos sertões do Nordeste – se impõem aos brasileiros como grandes valores morais. [...]
                               Gilberto Freyre, O exemplo de Ibiapina, prefácio do livro de Celso Mariz, Ibiapina, um apóstolo do Nordeste, 1980 
José Antônio Pereira Ibiapina nasceu no dia 5 de agosto de 1806, em Sobral, Ceará, filho de Francisco Miguel Pereira e Teresa Maria de Jesus.
Com a mudança da família para Icó, em 1816, passou a estudar na escola particular do professor José Felipe, iniciando assim sua educação formal.
Agricultor em Sobral, seu pai foi exercer a função de tabelião público em Icó, sendo convidado, em 1919, para ocupar o mesmo cargo na  Comarca do Crato, onde Ibiapina frequentou aulas de religião com o vigário José Manuel Felipe Gonçalves.
Na cidade de Jardim, Ceará, estudou latim com o mestre Joaquim Teotônio Sobreira de Melo e terminou o curso de humanidades, sendo então considerado apto para o Seminário de Olinda, em Pernambuco, onde ingressou em 1823, aos 17 anos de idade, com o objetivo de se tornar padre.
Com a morte do pai – fuzilado em praça pública, no dia 7 de maio de 1825, em Fortaleza, por ter participado da revolução conhecida como Confederação do Equador – Ibiapina teve que voltar ao Ceará para assumir e manter financeiramente a família, tendo que interromper seus estudos.
Segundo alguns pesquisadores, foi nessa época que ele adotou o sobrenome Ibiapina, uma homenagem do pai à povoação de São Pedro de Ibiapina, assim como outros confederados o fizeram, homenageando outros locais da região.
Em 1828, matriculou-se novamente no Seminário de Olinda, sendo aprovado para o curso de Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco, passando a morar no Mosteiro de São Bento, em Olinda. Após uma brilhante trajetória, formou-se em Direito, bacharelando-se no final de 1832.
Após a conclusão do curso, seu nome foi indicado para ser professor de Direito Natural, por proposta unânime da congregação dos professores. Para aproveitar o período de férias escolares viajou então para rever a família e amigos no Ceará, ocasião em que conheceu Carolina Clarence, por quem se apaixonou, marcando casamento para o próximo período de férias.
Estava no exercício do magistério como professor substituto de Direito Natural na faculdade de Olinda, quando foi eleito Deputado Geral, para representar o Ceará na Assembléia Legislativa Nacional, no Rio de Janeiro.
Depois do encerramento do ano letivo, viajou para Fortaleza com o objetivo de casar e resolver sua nova moradia no Rio de Janeiro. Ao chegar, no entanto, constatou que sua noiva havia fugido e casado com o primo Antônio Sucupira.
Em dezembro de 1834, após ó encerramento do período legislativo no Rio de Janeiro, volta à Fortaleza, sendo nomeado Juiz de Direito e Chefe de Polícia da Comarca de Campo Maior (hoje Quixeramobim), no Ceará.
Em 1835, retorna ao Rio de Janeiro para reassumir o parlamento como deputado, onde permaneceu até 1837, ano em que desistiu da vida política, passando a exercer a advocacia no Recife.
Em 1838, foi convidado a advogar na Vila Real do Brejo de Areia, na Paraíba, fixando residência permanente no Recife somente a partir de 1840, quando instalou um escritório de advocacia, no Pátio do Carmo, tendo advogado na cidade por dez anos. Foi considerado um dos mais conceituados advogados do Recife e conhecido como defensor dos pobres.
A partir de 1850, no entanto, resolveu abandonar a carreira e passou a morar numa pequena casa no sítio Caxangá, no Recife. Dedicou-se a rezar, meditar, estudar teologia e filosofia, além de fazer caridade. Três anos depois, resolveu seguir o sacerdócio, ordenando-se em julho de 1853, aos 47 anos de idade, como Padre Ibiapina .
Celebrou sua primeira missa na Igreja da Madre de Deus, no Recife. Foi nomeado vigário geral e doou tudo que possuía demonstrando o desapego aos bens materiais. Seus livros de Direito foram doados ao curso jurídico de Olinda
Em 1854, por decreto Imperial, foi nomeado lente de Eloquência Sagrada do Seminário de Olinda, tornando-se professor de História Sagrada e Eclesiástica da instituição, em janeiro de 1855. No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, alterou seu nome para José Antônio de Maria Ibiapina, em homenagem à Imaculada Conceição de Maria.
Em 1866, foi nomeado Visitador Diocesano da Paraíba com a tarefa de visitar e supervisionar as atividades da Igreja católica naquela província.
Foi então que ele, aos 60 anos de idade, deixou sua carreira de professor  para começar seu trabalho missionário, percorrendo mais de 600 km pelas províncias do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Sempre de batina, a pé ou a cavalo, pregava, aconselhava e levava o conforto por meio da palavra para o povo sofrido do sertão nordestino.
Organizou missões, construiu capelas, igrejas, açudes, cacimbas, poços, cemitérios, hospitais e chegou a fundar mais de vinte Casas de Caridade para moças órfãs carentes, onde elas recebiam educação religiosa e moral, aprendiam a ler, escrever e trabalhos domésticos, além de terem assistência à saúde.
Uma de suas máximas espirituais era: Depois do temor a Deus, o meio mais poderoso que tem o pai e a mãe de família para conservar a família em boa moral, na obediência e ordem regular, é o trabalho constante e forte.
Para alguns pesquisadores ele está incluído na categoria dos iluminados, pessoas que sempre lutaram por um ideal de trabalho e fé. Foi ponte entre a Igreja e o povo pobre do Nordeste brasileiro, construindo uma obra missionária significativa e respeitada, partilhando água, alimento e abrigo com doentes, mendigos e retirantes, levando sempre uma palavra de conforto para aqueles que precisavam.
O Padre Ibiapina faleceu no dia 19 de janeiro de 1883, na Casa de Caridade Santa Sé, na Paraíba.

Fonte: PASCOM GUARABIRA 

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