sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Justiça e caridade

De conformidade com a natureza do assunto, a palavra dos Papa, no exercício de seu Magistério, chega aos fiéis mediante documentos escritos sob diversas formas – Bula, Motu Proprio, Breve Apostólico, Exortação Apostólica, Carta Apostólica, Encíclica, Constituição Apostólica e outros. No seu ministério pastoral, os Papas comunicam aos católicos e à sociedade o pensamento da Igreja também através da homilia, da catequese e dos discursos. O Papa Bento XVI vem fazendo isso com grande maestria. Um exemplo recente é encontrado na sua catequese aos fiéis e peregrinos, reunidos para a oração do “angelus”, na Praça de São Pedro, no dia 16 de dezembro.

O foco dessa catequese é a necessidade de observância das virtudes da justiça e da caridade, por parte de todos, a exemplo de multidões, de fiscais e de soldados que, por terem sido tocados por sua palavra, ao procurarem o batismo, perguntaram a João Batista que deveriam fazer. Assim falou o Papa: “Esses diálogos são muito interessantes e se revelam de grande atualidade. A primeira resposta é dada ao público em geral. O Batista diz: ‘Quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem, e quem tem o que comer, faça o mesmo’ (v. 11). Aqui podemos ver um critério de justiça, animado pela caridade. A justiça pede que se supere o desequilíbrio entre quem tem o supérfluo e quem falta o necessário; a caridade empurra a estar atento ao outro e ir ao encontro da sua necessidade, em vez de encontrar justificação para defender os próprios interesses. Justiça e caridade não se opõem, mas ambos são necessários e se complementam. ‘O amor será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa’, porque ‘sempre existirão situações de necessidade material nas quais é indispensável uma ajuda na linha de um concreto amor ao próximo’ (Encíclica Deus caritas est, 28). E depois vemos a segunda resposta, que está dirigida a alguns ‘publicanos’, ou seja, cobradores de impostos para os Romanos. Já por isso os publicanos eram desprezados, e também porque muitas vezes aproveitavam da sua situação para roubar. O Batista não lhes diz para mudarem de trabalho, mas para não exigirem nada a mais do que está definido (cfr v. 13). O profeta, em nome de Deus, não pede gestos excepcionais, mas cumprimento honesto do próprio dever. O primeiro passo para a vida eterna é sempre guardar os mandamentos, neste caso o sétimo: ‘Não furtarás’ (cf. Êx 20, 15). A terceira resposta é sobre os soldados, outra categoria dotada de um certo poder, e portanto tentada de abusá-lo. Aos soldados João diz: ‘Não maltratar e não extorquir nada de ninguém; acontentai-vos com a vossa paga’ (v. 14). Também aqui, a conversão começa pela honestidade e pelo respeito aos outros: uma indicação que se aplica a todos, especialmente para aqueles que tem maiores responsabilidades. Considerando estes diálogos no conjunto, chama a atenção a grande concretude das palavras de João: sabendo que Deus nos julgará segundo as nossas obras, é ali, no comportamento, que é necessário demonstrar o seguimento da sua vontade. E justo por isso as indicações do Batista são sempre atuais: também no nosso mundo tão complexo, as coisas seriam muito melhor se cada um observasse estas regras de conduta.”

A observância das virtudes da justiça e da caridade, sem dúvida, é o melhor caminho para que a celebração do Natal tenha como frutos, no plano individual e coletivo, o proveito espiritual e a convivência solidária.

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

0 comentários:

Postar um comentário