Dom Edvaldo G. Amaral (*)
“Um jogo de
futebol em uma Copa do Mundo é o fato social total. Expresso na metonímia de
que 11 pessoas são o Brasil” – diz o Prof. Edson Gastaldo, da Universidade
Rural do Rio de Janeiro. Sob o título “A
Pátria de chuteiras”, o último número da revista da PUC-Minas traz
longo e profundo estudo sobre o fenômeno cultural que representa o
futebol para nossa pátria, começando pelo subtítulo: “Presente no cotidiano do
país, o futebol permeia a cultura e celebra a nacionalidade brasileira.” Essa
Universidade orgulha-se de ter tido
entre seus alunos o meia Rivelino e o atacante Romário.
Numa tarde fria
de outono de 1895, Charles Miller
(1874-1953) reuniu uns amigos e convidou-os a disputarem uma partida de foot-ball, enquanto lhes explicava as
regras do novo esporte e enchia de ar a bola para a primeira partida
desse jogo no Brasil, que até então só conhecia o críquete – foi o que informou
o introdutor no Brasil do esporte bretão, em declaração à revista O Cruzeiro de 1952. Por muito tempo ainda, as Ciências Sociais viam o futebol de modo
desconfiado. Julgavam-no como o ópio do povo, que servia apenas para ludibriar
as classes trabalhadoras e afastá-las das discussões políticas de seus
interesses. O maestro Heitor Villa Lobos dizia que o futebol não pegaria no
Brasil, sendo mais um modismo, como na época eram o ioiô e o bambolê. É de
Graciliano Ramos o texto Futebol é fogo
de palha, publicado em 1920.
Foi a partir do
Estado Novo, com o Presidente Getúlio Vargas, que o futebol começou a se
popularizar. A Copa da França em 1938,
com a participação de Leônidas, o “diamante negro” e a transmissão radiofônica,
empolgou todo o país. A obtenção do 2º lugar, vencido pela Itália na partida
final, trouxe enorme popularização para o futebol. A criançada – eu estava nela – fazia os famosos álbuns de figurinhas. Comentaristas
radiofônicos e cronistas nos jornais, como os irmãos Mário Filho e Nelson
Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira usavam linguagem coloquial, mais
próxima do torcedor. Poucos sabem que o nome oficial do Maracanã, palco do
final desta Copa, é Estádio Jornalista
Mário Filho. Maracanã é bairro carioca, onde se situa o famoso
estádio. O governo militar aproveitou
bem da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, com as campanhas
ufanistas do slogan Ninguém segura este
país e o hino da Copa Noventa milhões em ação – Pra frente Brasil
do meu coração – Salve a Seleção.
Também a campanha Diretas Já! colocou nos palanques de seus comícios o
craque corintiano Sócrates.
Para esta Copa, o
Ministério do Turismo calcula que o Brasil irá receber cerca de 600 mil
turistas estrangeiros, além de 1,1 milhão de brasileiros que se deslocarão pelo
país para as cidades-sedes do Mundial. Para o arcebispo Anuar Battisti, da
pastoral do turismo da CNBB, “Um evento como esta Copa pode ser muito favorável
para o nosso país. O grande ganho, diz ele, será tornar nosso país mais
conhecido e admirado. Desejamos que os turistas do esporte possam ser também turistas
de outras maneiras, tão agradáveis como o futebol.”
O que me
impressiona – e esta é uma opinião inteiramente pessoal – é que se o Brasil não
conquistar o primeiro lugar, que obteve já cinco vezes, para muitos será uma
desgraça nacional, quase como se uma bomba atômica tivesse caído em território
nacional. Mas - pergunto eu antipaticamente - as outras seleções não têm
também, como a nossa, o direito de conquistar a Copa do Mundo?...
(*) É arcebispo
emérito de Maceió.
Blog: blogspot.dedvaldo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário