Após a ressurreição, Jesus aparece a pessoas diferentes,
em lugares diferentes. Conforme os relatos dos Evangelistas, as mulheres são as
primeiras testemunhas da ressurreição, quando foram ao lugar onde se encontrava
o túmulo de Jesus, em Jerusalém. Dois discípulos, por sua vez, estavam a
caminho de Emaús, experimentando o vazio deixado pela morte de seu mestre,
quando, irreconhecível, ele aparece e participa da conversa, em torno do “que
lá aconteceu nestes dias”. Dez apóstolos encontravam-se reunidos, em Jerusalém,
a portas fechadas, com medo dos judeus, quando Jesus lhes aparece; numa segunda
vez, “oito dias depois”, e nas mesmas circunstâncias, presente o incrédulo
Tomé, Jesus aparece para que reconheçam e testemunhem que ele está vivo. (cf.
Jo 20,29) Posteriormente, Jesus aparece aos discípulos, em diversas ocasiões,
na Galileia, ora pedindo “alguma coisa para comer”, ora, depois do insucesso de
uma noite de pescaria, orientando-os a lançar as redes, “à direita do barco”,
cujo resultado foi uma pesca abundante.
Ao aparecer a seus discípulos, mulheres e homens, Jesus
quis confirmá-los na condição de testemunhas da ressurreição; com efeito, eles
deveriam propagar ao mundo que ele ressuscitou dos mortos. (cf. Mt 28,1-8) O
próprio Jesus quis que seus discípulos o vissem, na condição de ressuscitado.
“Trata-se, de fato, de dar o testemunho daquilo que conheceram da forma mais
direta: ver.” De fato, o verbo “ver” aparece, em vários tempos, nas narrações
dos Evangelhos: ver, vede, vendo, vereis, verão. Mais ainda, Jesus exige que
constatem: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um
espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. (Lc 24,39)
Para que alguém seja testemunha, é preciso que tenha visto pessoas e
acontecimentos envolvidos em determinada causa. Jesus tinha plena consciência
da importância da necessidade de constatação do fenômento da ressurreição, por
parte de seus discípulos, daí porque não exigiu deles um “ato de fé na
ressurreição”, como hoje a Igreja exige dos católicos, por ser um dogma de fé.
Na verdade, os apóstolos tiveram consciência dessa condição de testemunhas:
“Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e
disto nós somos testemunhas.” (At 3,15)
No aspecto histórico, a
veracidade de um fato exige a comprovação de testemunhas identificadas; no
plano judicial, o testemunho de uma testemunha fidedigna é um requisito
indispensável para o juiz exarar uma sentença justa, num julgamento simples ou
complexo; na dimensão pastoral, o fruto da evangelização está relacionado com o
testemunho dos cristãos que, à luz da fé, se tornam testemunhas continuadas da
ressurreição de Jesus, ao longo dos tempos e em todos os lugares. Jesus não
dispensou na era apostólica, nem dispensa hoje, seus discípulos de serem
testemunhas de sua ressurreição.
Dom Genival Saraiva
Administrador
Apostólico da Diocese de Palmares
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