Durante a primeira coletiva
de imprensa da 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, foi divulgada nota
por ocasião do Dia do Trabalhador. No texto, o episcopado brasileiro reconhece
os avanços conquistados pela classe trabalhadora, mas também pontua os desafios
que ainda persistem neste campo. A CNBB se faz solidária aos trabalhadores,
manifestando apoio às suas lutas e reivindicações.
“A nota sublinha
situações que depõem contra a dignidade dos trabalhadores quando fala de um
salário mínimo que ainda é baixo, mesmo reconhecendo que houve uma melhora.
Também chama a atenção para as situações precárias de trabalho, o desemprego
forçado e lembra dos imigrantes que estão chegando ao nosso país” explica o
arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, durante a entrevista
coletiva.
No texto consta, ainda, a
palavra deixada aos trabalhadores por São João Paulo II em visita a São Paulo
no dia 3 de julho de 1980. Além disso, fala as mortes decorrentes das obras da
Copa do Mundo.
Dom Geraldo Lyrio Rocha
explicou que é tradição da CNBB divulgar uma mensagem voltada aos trabalhadores
sempre que a Assembleia ocorre no dia 1º de maio, e considera que a
reflexão apresentada hoje traz pontos de “máxima relevância e de extraordinária
atualidade”.
A mensagem oficial pelo Dia
do Trabalhador é assinada pelo arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da
CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis; pelo arcebispo de São Luís (MA) e
vice-presidente, dom José Belisário Silva; e pelo bispo auxiliar de Brasília
(DF) e secretário geral, dom Leonardo Steiner.
Confira abaixo a mensagem na
íntegra:
Nota da CNBB por ocasião do
Dia do Trabalhador e da Trabalhadora
Reunidos na 52ª Assembleia
Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 30 de abril a 9 de
maio de 2014, em Aparecida-SP, nós, os bispos do Brasil, dirigimos esta
mensagem de esperança aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros na
comemoração de seu dia neste 1º de Maio. Ao saudá-los, pedimos que estejam com
vocês a graça e a paz de Cristo Ressuscitado, o Filho do Carpinteiro, a quem
confiamos a vida, a luta, os sonhos e as utopias de todos vocês.
O Dia do Trabalhador e da
Trabalhadora é ocasião propícia para recordar que o trabalho “constitui uma
dimensão fundamental da existência humana sobre a terra” (Laborem Exercens, 4).
Vocês, trabalhadores e trabalhadoras, “conhecem a dignidade e a nobreza do
próprio trabalho, vocês que trabalham para viver melhor, para ganhar para suas
famílias o pão de cada dia, vocês que se sentem feridos na sua afeição de pais
e de mães ao verem filhos mal alimentados, vocês que ficam tão contentes e
orgulhosos quando lhes podem oferecer uma mesa farta, quando podem vesti-los
bem, dar-lhes um lar decente e aconchegante, dar-lhes escola e educação em
vista de um futuro melhor. O trabalho é um serviço a suas famílias, e a toda a
cidade, um serviço no qual o próprio homem cresce na medida em que se dá aos
outros” (São João Paulo II aos trabalhadores em São Paulo, 3 de julho de 1980).
Assegurar trabalho decente a
todos, com condições dignas para exercê-lo e com justa remuneração, é responder
a esta vocação que faz do homem e da mulher colaboradores de Deus na obra da
criação. Assim, constitui sinal de esperança constatar a queda do desemprego em
nosso país, bem como o aumento dos salários e a ascensão social de milhares de
trabalhadores.
Reconhecemos, no entanto, a
permanência de situações que depõem contra a dignidade dos trabalhadores. O
salário mínimo ainda é muito baixo e se mantém distante do valor digno
preconizado pela nossa Constituição. A disparidade salarial entre os que
exercem a mesma função também é uma triste realidade em nosso país quando se
observa o fator gênero e raça.
Persistem igualmente
situações de trabalho precário e de desemprego disfarçado, em que pessoas
entram nas estatísticas como ocupadas, quando, na verdade, estão inseridas no
mercado informal à procura de novas e melhores ocupações. Esta realidade tem
atingido a maioria dos nossos jovens. Acrescente-se também o trabalho escravo
que vitima milhares de pessoas em todas as regiões do país, bem como as más
condições laborais a que são submetidos muitos trabalhadores imigrantes,
conforme denúncia da Campanha da Fraternidade 2014.
O Brasil tem uma das taxas
de rotatividade no trabalho mais altas do mundo. Preocupa-nos o crescimento
vertiginoso dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais. Confirmam
isso as recentes mortes de operários nas obras da Copa. A essas se somam as
inúmeras mortes de trabalhadores que ficam no anonimato pelo país.
Outra realidade inquietante
é a expansão da terceirização do trabalho no Brasil. Estudos do DIEESE (2011)
revelam que o trabalhador terceirizado fica 2,6 anos a menos no emprego, tem
uma jornada semanal de trabalho de três horas a mais e ganha 27% menos. A cada
dez acidentes de trabalho, oito ocorrem entre terceirizados. A aprovação do
Projeto de Lei 4.330, que regulamenta a prática da terceirização no país,
poderá aumentar a precarização no mundo do trabalho.
A redução da jornada de
trabalho para 40 horas semanais sem diminuição do salário é uma justa
reivindicação dos trabalhadores que não pode mais ser protelada. Da mesma
forma, a regulamentação da ‘PEC das domésticas’ é uma urgência que colocará fim
a esta dívida social da nação brasileira. O mesmo se diga em relação aos
aposentados que, após doarem sua vida com seu trabalho, são prejudicados com
perdas na aposentadoria que lhes tiram o direito a uma vida tranquila e segura.
Rever o fator previdenciário é demonstração de respeito e de reconhecimento aos
aposentados.
Lembramos estas situações no
Dia do Trabalhador e da Trabalhadora para chamar a atenção da sociedade
brasileira para seu compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras com quem a
CNBB se faz solidária, manifestando apoio às suas lutas e reivindicações. Anime
a esperança de nossos trabalhadores e trabalhadoras a palavra de Cristo:
“tenham coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).
A todos os trabalhadores e trabalhadoras
do Brasil, nossa especial e carinhosa bênção. O operário São José alcance de
seu Filho, Jesus Cristo, proteção e graça para todos.
Aparecida-SP, 1º de maio de
2014
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva,
OFM
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
0 comentários:
Postar um comentário