As pessoas percebem a índole de
muitos de seus concidadãos, conforme a natureza de sua administração. Com
efeito, no dia a dia, todo indivíduo exerce um tipo de administração, desde o
“flanelinha” nas ruas das cidades ao gestor mais graduado do serviço público e
da iniciativa privada. Cada um administra, à sua maneira, seu trabalho, no
âmbito de seu “território”. Dada a importância dessa atuação, a administração
tornou-se objeto de investigação da ciência e a escola a incluiu entre os
cursos de formação acadêmica, qualificando os profissionais que desempenham sua
atividade, com eficiência, porque contam com os conhecimentos e as técnicas da
logística administrativa. Ainda hoje, todavia, encontram-se administradores que,
graças ao seu bom senso, exercem seu trabalho com reconhecida qualidade. O
livro do Êxodo apresenta um exemplo nessa linha: “No dia seguinte Moisés
sentou-se para julgar as questões do povo, e o povo ficou diante dele desde a
manhã até a tarde. Vendo tudo isso que fazia pelo povo, o sogro de Moisés
disse: ‘Que estás fazendo com o povo? Por que apenas tu ficas aí sentado, com
tanta gente parada diante de ti desde a amanhã até à tarde?’ Moisés respondeu
ao sogro: ‘É que o povo vem a mim para consultar Deus. Quando têm alguma
questão, vêm a mim para que decida e lhes comunique os decretos e as leis de
Deus.’ Mas o sogro de Moisés disse-lhe: ‘Não está bem o que fazes. Acabarás
esgotado, tu e este povo que está contigo. É uma tarefa acima de tuas forças.
Não poderás executá-la sozinho. Agora escuta-me: vou dar-te um conselho e, e
que Deus esteja contigo. Tu deves representar o povo diante de Deus e levar a
Deus os problemas. Esclarece o povo a respeito dos decretos e das leis, e
dá-lhe a conhecer o caminho a seguir e o que devem fazer. Mas procura entre
todo o povo homens de valor, que temem a Deus, dignos de confiança e inimigos do
suborno, e estabelece-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles
julgarão o povo em casos cotidianos. A ti levarão as questões de importância
maior, decidindo eles mesmos os menores. Assim eles repartirão contigo o peso e
tu ficarás aliviado. Se assim procederes, serás capaz de manter-te de pé quando
Deus te der ordens, e o povo poderá chegar em segurança a seu destino.” (Ex
18,13-23) Aqui está o exemplo de um administrador de bom senso que escolhe como
auxiliares homens de valor, tementes a Deus, dignos de confiança, inimigos do
suborno. Nisso consiste sua probidade administrativa: “Agir de forma reta e honesta não somente de acordo com as
normas, como também de acordo com a ética (código de ética do servidor), dentro
dos princípios de moralidade.”
Hoje, lamentavelmente, a
sociedade conhece “n” casos de improbidade, praticados por administradores
públicos e por gestores privados. Embora cifras financeiras desses desmandos
administrativos possam ser estimadas, os prejuízos sociais e os efeitos econômicos são incalculáveis. Os casos da “ordem do
dia”, amplamente divulgados pela mídia, envolvendo políticos e empresários, atestam
que a sociedade está diante de uma crise de natureza axiológica, de uma crise
de valores. Por isso, há uma crise de confiança nas instituições e de
credibilidade nas pessoas, por falta de probidade administrativa.
Dom
Genival Saraiva
Bispo
Emérito de Palmares - PE
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