O término e o início de ano
constituem uma oportunidade favorável para que as pessoas lancem um olhar sobre
sua vida. É importante que façam isso de forma autêntica e não distorcidamente,
em vista da continuidade ou da alteração do seu “modus vivendi”. Nesse olhar,
quase sempre, elas enxergam, de imediato, o lado bom; trata-se de um fenômeno
compreensível porque, afinal, a natureza dotou o ser humano da capacidade de se
afirmar, de se impor. A mais antiga psicologia chama isso de “instinto de
conservação”. O olhar de outras pessoas nem sempre é coincidente sobre esse
“modus vivendi” e isso deve ser levado em consideração, quando se tem
consciência da necessidade de mudá-lo, em muitos aspectos. Por sua vez, por
força de disposições normativas e circunstâncias, instituições públicas e
privadas se avaliam; por um “mecanismo de defesa”, é muito comum evidenciarem
dados que a identificam de forma positiva, embora sejam manipulados
visivelmente, em muitos casos. Em qualquer contexto, em vista da manutenção de
uma linha de ação ou da necessidade de mudança de parâmetros de atuação, deve
prevalecer a objetividade dos fatos. Por
exemplo, na recente transmissão da administração federal e estadual, muitos
administradores avaliaram-se positivamente quando a sociedade identificou inverdade
nos discursos e inveracidade na apresentação de estatísticas de políticas
públicas não executadas.
A Igreja é uma instituição; na
verdade, é uma instituição servidora, seguindo os passos de Jesus que disse:
“Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida
em resgate por muitos.” (Mc 10,45) Ela se revela servidora através de suas
pessoas e de seus organismos. Nesse contexto de término e início de ano, a
humanidade acompanhou a avaliação que o Papa Francisco fez de pessoas e
organismos da Igreja. Porventura, alguém não se surpreendeu com o olhar humilde
e o coração pastoral do Papa Francisco sobre pessoas e organismos da Igreja? Ao
invés de uma leitura triunfalista sobre cargos destacados na estrutura da
Igreja e funções importantes exercidas por pessoas graduadas, fez uma avaliação
objetiva. Obviamente, essa linguagem do Papa Francisco não é consensual nem nos
meios eclesiásticos, nem na sociedade; mas, seguramente, é acolhida por quem vê
a Igreja à luz do Evangelho. Como se sabe, uma avaliação que revela a
objetividade dos fatos só não agrada a pessoas que têm um espírito megalomaníaco
e se guiam por um projeto carreirista. Para quem pensa assim, a manutenção do
“status quo” é garantia de segurança pessoal e êxito funcional. A história da
Igreja mostra que isso era “lugar comum” num passado longínquo e próximo. Porém,
nada disso é compatível com o ensinamento e se enquadra na prática de Jesus.
Essa mentalidade persiste na concepção e na prática de muitos católicos, membros
do ministério ordenado – diácono, sacerdote e bispo -, da vida consagrada e do
laicado, não obstante os conteúdos doutrinários do Concílio Vaticano II, que
definem a Igreja como “povo de Deus”, e suas diretrizes pastorais que, em face
de sua missão, a colocam diante do desafio da Evangelização no mundo que vive
em permanente transformação.
Do ministério do Papa Francisco, com certeza, os católicos
e qualquer pessoa podem extrair preciosas lições porque suas palavras são pronunciadas
com a marca da franqueza pessoal, seus sentimentos são expressos com serenidade
humana e suas atitudes falam de sua experiência pastoral.
Dom
Genival Saraiva
Bispo Emérito de
Palmares – PE
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