A
série de atentados terroristas, seguidos de massacres inomináveis, suscita em
nós um misto de consternação e indignação ética. Há alguns anos, após os
atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, sucedem-se provocações, ameaças e
fatos consumados de ódio e vingança às nações do Ocidente. Em suma, ao que
parece, a tendência do terrorismo é confundir mundo capitalista e “status quo
cristão”. Jornalistas e analistas políticos internacionais não conseguem
esboçar uma resposta lógica, tentando explicitar “por que” que em pleno século
XXI recrudesce o fanatismo fundamentalista, de caráter religioso. Por que
destruir tudo o que seja considerado inimigo do Estado Islâmico (EI)?
Numa
expressão apressada, e por isso perigosa, espalha-se a ideia confusa de que
religião identifica-se com fanatismo irracional e alienado. Ao recente massacre
do “Charlie Hebdo” seguiu-se a destruição de estabelecimentos cristãos e novo
massacre no Níger, somando-se duas mil execuções sumárias. Em vários países,
cuja população é de maioria muçulmana, seguem-se atentados, violações,
destruições, mortes cruéis. Tudo isso é praticado contra os cristãos e contra
os que discordarem do regime implantado pelo novo Estado Islâmico. A tolerância
humana tem limites ante o absurdo. Até que ponto a humanidade conseguirá
tolerar tanta irracionalidade? Como entender o século XXI vendo crescer mais e
mais o fundamentalismo que se dá ao luxo de passar por cima de quaisquer
convenções sobre Direitos Humanos? Estamos diante de um radicalismo
intolerável. Na esfera mundial, hoje, é inconcebível tolerar a negação dos
direitos humanos fundamentais e irreformáveis. Trata-se do direito de expressão
de um lado e de outro o direito à liberdade religiosa ou filosófica.
Todo
cidadão possui o direito de expressar suas crenças e valores, contanto que não
se imponha pela força violando o direito dos outros. Crenças e valores
humanitários são reputados como sagrados na esfera pessoal, comunitária e
social. Tenho o direito de expressar minha opinião, crença ou valor, sem ser agredido,
debochado, massacrado por alguém que discorde. A pluralidade de expressão de
valores é um bem inquestionável e inviolável. Jamais existirá sociedade
democrática sem o direito de expressar opiniões plurais legítimas,
constitucionalmente. A intolerância é anticonstitucional. O bom senso segue-se
ao respeito recíproco. A liberdade de expressão identifica-se como legítimo
direito de exprimir crenças e valores que não se confundem com imposição,
proselitismo religioso e, menos ainda, com guerra santa, conspurcando o nome de
Deus.
Dom
Aldo Pagotto
Arcebispo
Metropolitano da Paraíba
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