quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Artigo: Principios e práticas

            Via de regra, aquilo que é novo, que é diferente, suscita, no mínimo, curiosidade e, em alguns casos, desperta interesse. A publicidade e a mídia sabem trabalhar esse fenômeno com técnica e arte, de modo que são conhecidos os efeitos de sua ação. A acentuada publicidade em cima do consumo de bebida, por exemplo, confirma sua ação sobre as pessoas, de modo que muitas delas se tornam quimicamente dependentes. Mesmo estando sob controle, nos meios de comunicação de massa, a publicidade sobre cigarro, conforme a legislação vigente, o seu consumo continua elevado, causando os conhecidos males a milhões de fumantes. A curiosidade tem levado muitas pessoas, especialmente os jovens, a experiências desastrosas. O consumo de droga, iniciado por simples curiosidade, segundo muitos depoimentos, tem levado muitas pessoas à dependência. As drogas desgastam a vida dos consumidores e, em alguns casos, a estragam pra sempre. Noutra frente, o consumismo desenfreado envolve pessoas na compra de bens supérfluos; muitos não resistem ao ímpeto consusmista, muito embora tenham prioridades a atender, em relação a si mesmas e à sua família. Essa situação se caracteriza, em alguns casos, como comportamento compulsivo que necessita de tratamento pertinente. Humanamente, não é uma coisa simples a uma pessoa resistir a estímulos e apelos, no dia a dia, que vão na direção oposta às suas convicções; que dizer de quem não tem convicções sólidas?

Essa ordem de coisas evidencia a existência de comportamentos teleguiados que são assimilados e observados, de conformidade com uma determinada matriz. O fundamentalismo de religiões, de igrejas, inclusive cristãs, de ideologias, de grupos políticos é uma dessas matrizes. O atentado às torres gêmeas de Nova York foi perpetrado por pilotos com uma dosagem doentia de fundamentalismo islâmico. É claro que não se deve atribuir um comportamento fundamentalista de uma pessoa a uma religião, como tal; todavia, é inegável a existência de membros de determinada religião que, por terem esse perfil fundamentalista e exercerem funções destacadas, contribuem para que sejam forjadas personalidades doentias. Nessa linha, o exemplo da ordem do dia é o ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria) que quer se impor como “autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo e aspira tomar o controle de muitas outras regiões de maioria islâmica.” Há sempre um grande perigo para a sociedade quando pessoas ou instituições exercem um patrulhamento de natureza ideológica ou religiosa porque daí deriva a dominação sobre indivíduos, grupos e nações, pela via das atrocidades, perseguições, atentados, torturas, mutilações e mortes.

A sociedade democrática se rege por parâmetros de outra natureza, como liberdade, igualdade, justiça e muitos outros que encontram sua consistência em princípios que provêm de uma formação humanista recebida na família, na escola, na sociedade e na comunidade de fé. Graças a essa formação, há pessoas amadurecidas, com capacidade de discernimento, que assumem posições adequadas na realidade cotidiana e em situações excepcionais da vida. Princípios éticos, morais e cristãos geram práticas éticas, morais e cristãs que sempre fazem bem às pessoas, às famílias e à sociedade.

Dom Genival Saraiva

Bispo Emérito de Palmares - PE

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