segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Passado, Presente e Futuro - Dom Genival Saraiva


A vida das pessoas e das instituições, necessariamente, há de se reger pela categoria do tempo, dado que tudo é visto na ótica do passado, presente e futuro. “O futuro ainda não existe e, quando chegar, deixará de ser futuro, para ser presente. O passado já deixou de existir e, quando existiu ainda não era passado, mas sim, presente. O presente é o único momento que realmente existe para nós. O que realmente conta é o momento presente.”

Por viver no tempo, a pessoa humana conhece o passado, vivencia o presente e aguarda o futuro que pode até não chegar, em relação a expectativas e projetos. Da mesma forma, uma instituição tem passado, longínquo, em alguns casos, escreve o presente com muita pujança e prepara o futuro, em bases estrategicamente sólidas. Porém, a pessoa, tampouco a instituição, tem o seu futuro assegurado, mesmo considerando a segurança do seu passado e a firmeza do seu presente. Há exemplos muito ilustrativos, nesse sentido. Muitas pessoas que conhecem dissabores hoje tiveram a união e a felicidade como marcas registradas do seu passado conjugal. A crise financeira internacional é a grande evidência da fugacidade das conquistas temporais, na vida de nações e instituições, para quem o futuro é muito incerto, exatamente porque depositaram sua segurança em bens falazes.

Mais do que a simples leitura filosófica e histórica, na compreensão da categoria de passado, presente e futuro, o olhar da revelação sobre a criação alcança uma dimensão maior porque distingue, claramente, a condição do ser humano das demais criaturas; por isso, atribui-lhe responsabilidades próprias e lhe dá graças especiais para que possa cumprir sua missão na terra. A Sagrada Escritura é suficientemente clara sobre a relação de interdependência entre a temporalidade e eternidade da pessoa humana porque tem presente aquilo que o diferencia: ser “imagem e semelhança” de Deus. (cf. Gn 1,26). Por conseguinte, ele tem uma vocação de eternidade, não está limitado à finitude do tempo. Jesus fala dessa relação temporal e eterna, no momento do julgamento final: quando se identifica ou não com as pessoas que o viram ou não o viram no faminto, sedento, doente, prisioneiro, estrangeiro. (cf. Mt 25, 31-46)

Consequentemente, a doutrina e o magistério da Igreja veem o ser humano nessa perspectiva. Conforme a teologia católica, a eternidade é um “nunc stans”, é um “estando agora”; segundo Santo Tomás de Aquino, “esse último agora é como o presente eterno”. Portanto, por sua natureza, eternidade é “um agora que perdura”. O magistério da Igreja obviamente, vai nessa direção e ensina que a eternidade leva em consideração o passado das pessoas. Um não identificado “Autor do século segundo” ensina: “Não se entristeça o cristão, se neste tempo suporta a miséria; espera-o um tempo feliz. Ao recobrar a vida, junto com os antepassados, no Alto, alegrar-se-á para sempre, nunca mais a tristeza o perturbará. E também não se abale nosso espírito, quando vemos ricos os injustos e em dificuldades os servos de Deus. Tenhamos fé, irmãos e irmãs: suportamos as lutas do Deus vivo e somos provados nesta vida para recebermos a coroa na futura.”

Passado, presente e futuro pertencem à terra; a eternidade, por ser duradoura, merece mais atenção!

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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