Dom Dulcênio Fontes de Matos
é Bispo da Diocese de Palmeira dos Índios. Concedeu entrevista exclusiva ao
jornal Tribuna do Sertão onde abordou várias temáticas, entre elas, a
importância das ações sociais desenvolvidas pela Diocese em seus 36 municípios.
O bom desenvolvimento do campo missionário e religioso da Diocese, citando na
oportunidade, a Pastoral da Família, que está entrando nas paróquias com o
intuito de ajudar as famílias, ensinando os valores cristãos; Os grupos jovens
evangelizados, a Pastoral da Criança, que inclusive ganha destaque, pois, vem
se desenvolvendo em números relevantes considerando a proporcionalidade com o
resto do País.
Além disso, Dom Dulcênio
afirmou que o Papa Francisco pede que os Bispos, padres não fiquem apenas numa
igreja de sacristia, que todos devem sair e ir até as periferias conhecer a
realidade das pessoas mais carentes em suas comunidades, e o mesmo garante que
a Diocese de Palmeira está desenvolvendo essa nova forma de evangelizar, saindo
mais das igrejas e indo ao encontro dos fieis por meio dos projetos
desenvolvidos.
Devido ao período de
eleições no País, Dom Dulcêncio também fez uma alerta com relação a escolha dos
candidatos, afirmando que é necessário realizar uma “busca” procurando obter
informações a respeito da atuação daqueles que já exerceram cargos políticos e
conhecer melhor os que estão se candidatando pela primeira vez. Por fim, o
Bispo finaliza dizendo que: “Não temos direito de vender nosso voto. Pois, voto
não tem preço, tem consequência”, declarou Dom Dulcênio.
Confira abaixo a
entrevista na íntegra:
Tribuna do Sertão – Como
está sendo desenvolvido os trabalhos na Diocese de Palmeira dos Índios?.
Dom Dulcênio – Os
trabalhos realizados pela Diocese de Palmeira dos Índios é muito grande e vem
desenvolvendo os projetos nos 36 municípios de Alagoas que fazem parte da
Diocese. Podemos citar como exemplo, a Pastoral da família, Cárita Diocesana, a
Pastoral do jovem rural, o Movimento dos Homens do Terço; a Casa do Menor em
Santana do Ipanema, as creches em Pão de Açúcar, Batalha e aqui em Palmeira dos
índios, A Fazenda da Esperança em Poço das Trincheiras. E tudo isso faz parte
do trabalho social da Diocese.
Porém, queremos destacar que
cada paróquia faz a sua parte com seus trabalhos sociais e que não se limita
nas ações da Diocese. Por exemplo, aqui mesmo na sede nos temos o trabalho que
é a Vila do Idoso, que está sob a responsabilidade da Diocese e atualmente nós
temos cerca de 40 idosos, e esse trabalho te sido referência para o Estado de
Alagoas.
É bom destacar que todo esse
trabalho social é feito em conjunto com a questão religiosa. Pois, na minha
opinião, o religioso não pode estar separado do social, ou seja, distinguindo
que uma parte é de Deus e a outra é do mundo. Eu acredito que viver o
evangelho, é viver a palavra, é transformar as coisas em vida, e vida é
justamente tudo isso que nós fazemos além da palavra que transforma, também os
gestos concretos. O nosso objetivo é evangelizar sim, e isso no sentido mais
completo da palavra. É salvar o homem como um todo.
Tribuna do Sertão – Pode-se
afirmar que a igreja, em especial, a Diocese de Palmeira, hoje está cada vez
mais próxima dos seus fieis devido a esses trabalhos sociais que permite o
conhecimento da realidade de cada população?
Dom Dulcênio – Isso é
exatamente o que o Papa Francisco tem solicitado aos Bispos, aos Padres e aos
homens e mulheres de boa vontade, que não fiquemos apenas numa igreja de
sacristia, que devemos sair e ir até as periferias conhecer a realidade dessas
pessoas mais carentes. Então, essa é a nossa preocupação, que é servir a Deus,
mas sem desprezar esse outro lado que é o ser humano. Pois, não adianta estar
na igreja e dizer que ama a Deus e saber que um irmão está passando fome.
Temos que evangelizar
mostrando que o nosso Deus está muito presente e nós podemos ser usados com instrumentos
para fazer o bem. Antes que as pessoas possam indagar: que Deus é esse que nos
deixa passar fome?. Dom Jaime durante a campanha conta a miséria e a fome no
Brasil, disse que não entendia com um país que é na sua grande maioria cristão,
ainda hajam pessoas passando fome, porque isso é a maior contradição do
evangelho. E atualmente dados apontam que ainda existem 57 milhões de
brasileiros passando fome em nosso País, apesar de todos esses projetos sociais
dos governos federal, estadual e municipal, esse número alarmante de pessoas
passam fome, e vivem com a falta de moradia, educação e, como estamos vendo por
meios dos veículos de comunicação, passando também por um verdadeiro caos na
saúde pública do Brasil.
Tribuna do Sertão – Diante
de todos esses problemas citados anteriormente, como a fome, a falta de
moradia, educação e assistência médica, qual seria o conselho a ser dado?.
Dom Dulcênio – Então, o
que nós estamos fazendo diante dessa grandiosidade de necessidades alguns podem
até considerar que seja muito pouco, mas nós estamos fazendo. E eu penso que
não podemos ficar de braços cruzados apenas reclamando da situação. Devemos
tomar a frente de algumas coisas e tentar fazer, dentro das nossas
possibilidades, alguma coisa que possa ajudar ao próximo. Veja bem, só em um
projeto do cáritas que nós estamos fazendo, são 333 famílias beneficiadas com
as cisternas, esse é apenas um dos vários projetos que temos e um exemplo para
se dado.
Tribuna do Sertão – Existe
alguma parceria, apoio com os quais a Diocese conta para executar os projetos?.
Dom Dulcênio – Sim. Mas
antes de falar nessas parcerias gostaríamos de explicar que a igreja não tem
nenhuma vantagem financeira com esses projetos. Não recebemos um centavo dessas
ações sociais. Contudo, devemos destacar as parcerias, já que seria impossível
desenvolver esses trabalhos sem o apoio dado, pois nós não temos recursos, os
recursos só chegam por meio dos parceiros. E podemos citar com exemplo o
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Governo Federal (no
projeto das cisternas de água – Cáritas) governos estadual e municipal, por
meio dos programas, e também de todas as equipes que são voluntárias nesses
projetos. Claro que existem alguns profissionais que são pagos com os recursos
que vêm para o próprio projeto.
Não esquecendo dos “ leigos”
da igreja, (termo usado para as pessoas que estão na igreja ajudando nesses
trabalhos mas não são religiosos como os Bispos, padres) que ajudam de forma
sem igual, além dos voluntários. Um fato que pode ser colocado como exemplo foi
quando aconteceu a enchente em Quebrangulo, que foi uma tragédia, e eles nos
ajudaram de forma sem igual. Fomos ao rádio solicitar ajuda a população e em
menos de duas horas nós conseguimos arrecadar vários quilos de alimentos que
lotou um caminhão.
A igreja Matriz ficou por
quase 5 meses servindo como local para arrecadação e repleta de alimentos,
roupas, agasalhos, enfim, produtos doados que foram distribuídos para as
famílias atingidas. Então, realizar ações sociais é isso, saber das
necessidades das pessoas, buscar ajudá-las, tentando seguir os ensinamentos de
Cristo. Lembrando que evangelizar não é só rezar, é também fazer o bem ao
próximo, sem querer nada em troca.
Tribuna do Sertão – Várias
políticas sociais são desenvolvidas também pelos governos, empresários e outras
instituições. No entanto, existem alguns que as enxergam de forma negativa por
fazer com que a população fique dependente das mesmas e resulte em “troca de
favores”. Como a igreja se diferencia nessa questão?
Dom Dulcênio – Queremos
deixar bem claro que, nós não estamos fazendo esses trabalhos como fazem alguns
políticos, que é esperando algum retorno. E esse retorno esperado é sempre
através do voto. A situação é completamente diferente da nossa, pois nós
realizamos essas ações simplesmente por amor e sempre no anonimato. Então, aí
está a grande diferença das ações sociais desenvolvidas pela igreja. Não
esperamos nada em troca porque o nosso objetivo é ajudar as pessoas
indistintamente.
A nossa maior alegria e
recompensa é quando chegamos, por exemplo, nesses locais onde acontecem as
ações e podemos perceber que aquelas famílias que antes passavam necessidades
estão em situações melhores, e têm hoje o alimento para matar sua fome e a água
para saciar sua sede. Quando voltamos aos locais percebemos a alegria e a paz
naqueles lares.
Tribuna do Sertão – Em uma
revista da Diocese V. Ex.ª Revma faz uma alerta para a população devido ao
período das eleições. Foi destacando inclusive a responsabilidade de suas escolhas.
Poderia fazer alguma explanação sobre o assunto?
Dom Dulcênio – É
verdade, fiz realmente um texto onde abordei o assunto justamente por querer
fazer uma alerta para a população durante esse período, afirmando que, mais uma
vez estamos diante de uma difícil tarefa de escalar o nosso “time”, (fazendo
nesse caso uma breve alusão à seleção brasileira de futebol), só que agora a
seleção de nossos representantes será nos âmbitos estadual e federal. E essa é
agora a nossa grande responsabilidade, sobretudo, no que diz respeito à atuação
dos nossos candidatos.
É preciso que fiquemos
atentos ao que eles pregam e ao que eles já andaram fazendo ao longo de sua
vida pública. Alguns que agora se apresentam preocupados com o bem comum,
“religiosos”, sérios, honestos, podem até já ter se envolvido em algum esquema
de corrupção ou da compra de votos. Por isso, para não nos enganarmos, devemos
fazer uma revisão histórica, procurando obter informações a respeito da atuação
daqueles que já exerceram cargos públicos e procurar conhecer os que estão se
candidatando pela primeira vez.
“Política não se faz com
barganhas, mas com ideias claras e objetivos que visam o bem comum e a
dignidade das pessoas. Por isso, não façamos de nosso voto uma mercadoria, nem
dos nossos candidatos mercadores. Voto não tem preço, tem consequência. Quem
vende seu voto está pecando tanto quanto quem compra”, finaliza.
Fonte: Portal Tribuna do Sertão - http://www.tribunadosertao.com.br/
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